ARTICULISTAS

O luto pelo filho que não veio

Vera Lúcia Dias
Publicado em 19/03/2019 às 16:37Atualizado em 17/12/2022 às 19:08
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Muitas vezes eu gostaria de ser mais de uma pessoa e poder colaborar em todas as causas sociais que considero necessárias ao mundo atual, mas, como sou apenas uma, fico flertando à distância com o trabalho de organizações locais que agregam pessoas vivendo experiências comuns.

De vez em quando, sou convidada por alguma delas para uma palestra, como no dia 09 de março, quando estive na reunião mensal do Grupo de Apoio à Adoção de Uberaba (Graau) onde, para minha surpresa de quem esperava meia dúzia de “gatos pingados” – no meio de uma quente tarde de sábado - encontrei cinquenta pessoas muito motivadas e participativas.

Ali, pude, mais uma vez, constatar em como as vivências emocionais podem ser compreendidas e analisadas à luz da teoria. Utilizando-me das técnicas da Terapia Comunitária, pude realizar uma valorosa troca de experiências sobre os diferentes momentos vividos pelos presentes.

Nosso foco foi o enfrentamento do luto pelo filho que não veio e que, para muitos, culmina com uma adoção. Conversamos sobre os sentimentos de frustração, culpa, injustiça, medo, revolta, raiva e isolamento que costuma acompanhar um diagnóstico de infertilidade culminado na sensação de impotência que se experimenta diante de algo que não pode ser mudado.

E é aqui que fazemos um link com as questões do Luto. Quando perdemos algo seja concreto ou, idealizado como no projeto de se ter um filho, por exemplo, a vida exige que nos reinventemos e a adoção pode ser um novo investimento afetivo, não como um prêmio de consolação, mas como consciência de que a parentalidade por adoção, não é melhor e nem pior do que a vivida pelos laços consanguíneos. É apenas diferente...

Filho é filho, independente se nasceu do nosso ventre ou do nosso coração e todo ele, vem sempre com um pacote de novidades que precisam ser “adotadas” para que ele realmente possa ser parte de nossa vida e família.

Adotar significa cuidar, considerar, se apropriar. Nesse sentido, todo filho quando nasce precisa ser adotado, porque só gerar um filho não torna mãe a mulher que apenas pariu e, se assim fosse, muitos não seriam abandonados.

Se você, pai ou mãe em potencial, se sente tangenciado por essa questão, mas lhe foi negada a possibilidade de sê-lo biologicamente falando, vale a pena conhecer o trabalho do Graau, porque lá você conhecerá pessoas adultas navegando no mesmo barco e poderá ser devidamente orientado para um processo de adoção que lhe permitirá fazer sua escolha pelo amor incondicional com segurança e clareza.

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