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Solidão e Psicoterapia

Uma das características do tempo presente é a facilidade de comunicação e, no entanto...

Vera Lúcia Dias
Publicado em 02/06/2017 às 20:18Atualizado em 16/12/2022 às 12:57
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Uma das características do tempo presente é a facilidade de comunicação e, no entanto, nunca se viveu um isolamento social tão grande. Isto nos leva a questionar qual a relação de causa e consequência entre os dois fatos. 

Nos consultórios de Psicologia, esta realidade se reflete por meio de perguntas que podem assim ser traduzidas: “Como posso diferenciar se sou uma pessoa independente, individualista ou solitária”; “Amo meus familiares, mas mesmo assim me sinto só. Por que será?”; “É normal me sentir como se não tivesse ninguém, mesmo tento várias pessoas ao meu redor?”; “Por que a sensação de solidão mesmo me sentindo bem sucedida na vida?”; “Por que não consigo confiar verdadeiramente nos outros?”; “Gostaria de ter mais momentos só meus. Isso é bom?”.

As queixas dos que chegam ao consultório psicológico variam entre um mal-estar consigo mesmo (irritabilidade excessiva, mudanças bruscas de humor, baixa autoestima, insegurança, impaciência, falta de tolerância na convivência, passividade, sentimento de culpa e/ou fracasso…) ou nas relações interpessoais e amorosas, como o medo de ser traído (a), ciúmes, tentativa de exercer o controle da relação, sentimento de desproteção, desamparo e vulnerabilidade perante os outros, dentre outras.

Será que esta gama de sentimentos que desembocam na solidão pode ser explicada só por fatores como falta de tempo e pressões da vida profissional ou existe um medo de se aproximar, de se comprometer, de ser rejeitado e que acaba por facilitar a busca de saídas no entretenimento do mundo virtual ou atividades solitárias que parecem menos ameaçadoras?

Uma das oportunidades atuais de se buscar respostas para questões pessoais é a realização de um trabalho psicoterápico, mas até a ele as pessoas resistem, com raciocínios do tip “Eu já sei a causa de meus problemas e posso resolvê-los sozinho (a)...”; “Não estou tão mal assim. Tem gente vivendo coisa muito pior...”; “Tenho medo de mexer no baú do passado...” “Tenho muita dificuldade de falar sobre minhas coisas para os outros.” “É muito caro e... será que resolve mesmo?”; “Como e onde encontrar um (a) profissional confiável?” E assim, de desculpa em desculpa, vai-se vivendo “uma vida sofrida a sós”, como canta Elis Regina na música Romaria. Mas, ainda que esta seja sua escolha, é importante procurar conhecer que fantasias, defesas, medos e limites estão encobertos nessas indagações.

Alguns se apegam a Deus e às orações para a resolução de dificuldades psicológicas, esquecendo-se do famos “Faça a sua parte que Eu te ajudarei”. Se Deus proporcionou conhecimentos científicos e a descoberta de técnicas para que o homem também possa ajudar no alívio de sofrimentos psíquicos, por que não confiar e pelo menos experimentar?

Sabemos que ainda há muitas fantasias e preconceitos em relação ao psicólogo e à psicoterapia, que se aliam à cultura do “você tem que ser forte”, que estimula o dar conta de tudo sozinho, como se buscar ajuda fosse sinal de fraqueza.

Na verdade, ser capaz de encarar a própria dor e o próprio sofrimento e fazer algo a respeito são sinais de coragem para enfrentar o novo e o desconhecido, de andar por caminhos novos, que, como qualquer outro caminho, têm curvas, retas, subidas e descidas, mas pode levar ao amadurecimento emocional e ao fortalecimento de seus recursos interiores, a uma melhoria de suas relações sociais e, consequentemente, diminuir sua sensação de solidão.

Eu tenho minha psicóloga! Você não quer ter o seu ou a sua?

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