ARTICULISTAS

Criando filhos na contemporaneidade

O fato de historicamente lidar ao mesmo tempo com as mazelas da Educação, como educadora...

Vera Lúcia Dias
Publicado em 07/04/2017 às 20:17Atualizado em 16/12/2022 às 14:09
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O fato de historicamente lidar ao mesmo tempo com as mazelas da Educação, como educadora, e da Saúde Mental, como psicóloga, me faz experimentar uma preocupação especial com os efeitos funestos de uma educação distorcida ou mal conduzida.

Perdi a conta de palestras proferidas e entrevistas concedidas sobre o tema, bem como de projetos e iniciativas com o objetivo de auxiliar os pais nessa importante e difícil tarefa de educar os filhos. Posso citar como exemplo a criação de uma Escola de Pais num momento em que a função que desenvolvia na Secretaria Municipal de Educação me permitiu tal proeza.

Hoje, lendo a síntese de uma entrevista do psiquiatra e autor Augusto Cury, dentre eles o best-seller “Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século”, o conteúdo da mesma foi direto na veia em que corre a preocupação aqui citada.

Falando especificamente da ansiedade infantil, coisa impensável nas décadas passadas, ele aponta algumas possíveis causas para esse mal e aponta alternativas interessantes para cada uma delas.

Começa por chamar a atenção para o excesso de estímulos que as crianças e adolescentes estão imersos em prejuízo do desenvolvimento de habilidades socioemocionais importantes, como a empatia, a reflexão que deve preceder a ação, a gratidão e o gerenciamento dos pensamentos que filtram nossas emoções para nos proteger dos transtornos psíquicos.

A constante exposição a experiências nem sempre construtivas cria uma geração triste e depressiva (preste atenção ao número de suicídios nesta faixa etária...). É preciso ensinar que o consumo por si só não faz ninguém feliz e que o prazer advindo somente da estimulação externa torna as pessoas superficiais e sem saberem contemplar o belo que ainda existe.

Muitos pais consideram ser sua missão preservar os filhos das dores da vida. Desta forma, não cultivam a intimidade que proporciona o compartilhamento das dificuldades vividas e experiências e a nutrição emocional que não é ensinada pelas babás de hoje: tablets, smartphones, TVs ou as atividades oferecidas pelas creches e escolas de tempo integral. 

Há que se resgatar a infância subtraída, oferecendo mais brincadeiras e menos informações e agendamentos. E, também, que se ensine a conviver com limites de horários para o uso do aparato tecnológico, criando espaços para aprender a refletir, interiorizar, criar e sentir.

Importante se faz substituir o excesso de apontamento de falhas pelo destaque e promoção dos pequenos acertos e atitudes inteligentes. Assim, sem fingimento e por meio do reforço positivo, podemos combater a timidez, a insegurança e o medo de empreender coisas novas.

Para concluir, Cury recomenda aos pais a busca do equilíbrio emocional para poderem dar o exemplo que edifica. Como pode um pai pedir ao filho que dose o seu tempo de “navegação” para poder criar e contemplar a vida, se ele mesmo não se desgruda de seu celular?

Creio valer a pena pensar em tudo isso...

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