Quando nos falta a inspiração

Há dias que escrever um artigo é como tirar leite das pedras. Nenhum assunto nos parece original ou interessante. Sentimo-nos repetitivos e sem criatividade, principalmente se buscamos inspiração no cotidiano.

Em Londres, a notícia fresquinha de um atentado nos mostra que não existe mais lugar seguro no mundo e viajar pela Europa vai se tornando aterrorizador.

Se olhamos para o cenário nacional, assistimos a um pingue-pongue com três raquetes. A bola vai da Operação Lava Jato para a Reforma da Previdência e daí para a história da Carne Fraca, num bate e volta sem fim.

Se miramos no âmbito estadual, vemos um funcionalismo insatisfeito e inseguro, sentindo-se ameaçado com a iminência de perdas de vantagens irrecuperáveis, dentre elas até o direito de receber o seu salário em uma só parcela, como sempre foi feito, e, como se isso não bastasse, a possibilidade de falência, como em alguns outros estados, ronda o nosso horizonte.

Se focamos nossa atenção na realidade da terrinha, em especial nesta semana, temos o feijão com arroz dos estragos causados pela enchente do coitado do São José, o risco do “congelamento” do salário dos servidores municipais, a ocorrência de dois crimes no espaço de uma hora e assaltos em profusão...

Se tentamos assistir à TV nos canais abertos até as novelas outrora fonte de alegria, hoje em todas elas só há jovens rebeldes e mal-educados, vilões, vinganças, roubos de crianças em profusão, deixando-nos para baixo quando percebemos a perda dos valores morais e éticos. Que os digam as Magnólias e os Tiões Bezerras de A Lei do Amor, os Césares e as Donas Sinhás de Sol Nascente, as Nazarés Tedescos de Senhora do Destino, as Carminhas de Avenida Brasil, as Bárbaras de Malhação, tudo isso de uma só vez... Por outro lado, Marias do Carmo, Joanas, Saletes e Helôs penam nas armações dessa corja toda, numa imitação aproximada da vida.

Mas nem tudo está perdido. Para quem consegue ir dormir mais tarde, existe um BBB 17, que, apesar de mamão com açúcar, parece um pouco mais moralizado que nas edições anteriores em termos de apelo erótico. Dessa vez, apenas um casal sem sal se formou e, numa lenga-lenga sem fim, parece não ter chegado às vias de fato debaixo do edredom...

Enquanto isso, políticos desacreditados começam a mostrar suas caras lavadas e a se movimentar, tentando renascer das cinzas para testar como anda nossa tolerância com suas fichas sujas.

E assim vamos nós, caminhando no tempo, distraídos entre um escândalo e outro, vencendo o primeiro trimestre do ano à espera da próxima bomba que irá rechear um novo sabor de pizza.

Entenderam de onde vem a falta de inspiração?

Vera Lúcia Dias