ARTICULISTAS

Violência no país já supera guerras e ditaduras

Os números não mentem. Podem não ser bons

Doorgal Borges de Andrada
Publicado em 16/08/2013 às 11:08Atualizado em 19/12/2022 às 11:33
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“Os números não mentem”. Podem não ser bons, mas através deles sentimos a tragédia silenciosa porque passa o Brasil, com mortes injustificáveis cujo número supera guerras e revoluções. 

Hoje, morrem no país, em média, no mínimo 130 mil pessoas/ano, de forma ‘evitável’: 42 mil no trânsito (Agência Brasil – 2012) (I); 52,1 mil vítimas de crimes/assaltos (Mapa da Violência 2013) (II);  30 mil crianças de ‘doenças da fome’ (BBC Brasil, dez.2013) (III), e, 10,3 mil pessoas/ano não reencontradas - 20% das 51,7 mil desaparecidas – (O Globo, jan.2012) (IV). 

130 mil mortes/ano! Número maior que o de brasileiros mortos nos 6 anos da guerra do Paraguai (1865-70) - a pior tragédia do país – pois, mal preparados, perdemos 15 mil soldados/ano. Nos 46 anos (1961-2006) do governante Fidel Castro à frente da ditadura cubana, sejam torturadas ou fuziladas, morreram em média 350 pessoas/ano (Anistia Internacional).  E, na ditadura Pinochet, no Chile (1973-90), estimam uma média de 2.500 mortos/ano.    

No Brasil, os mortos e desaparecidos no governo militar (1964-85), totalizam 480 pessoas, uma média de 24 perdas/ano. E, no final (1942/45) da ditadura Getúlio Vargas, estiveram presos ou torturados, em prisões e centros de concentração mais de 3 mil pessoas de origem italiana, japonesa e alemã  (desconhece-se quantos morreram). 

Frisamos: perdemos cerca de 130 mil pessoas/ano, por culpa da sociedade ou do poder público, uma média bem superior às 350 pessoas/ano vítimas de Fidel, acima das 2.500 pessoas/ano vítimas de Pinochet, ou,  das 24 pessoas/ano decorrente do governo militar.

Foi em razão do alto número de soldados mortos no Vietnã e depois no Iraque, que os norte-americanos pressionaram o Governo a sair dos conflitos. No Vietnã (1964-75) a média foi de 5.600 americanos mortos/ano, e, nos 7 anos num explosivo Iraque (2003-10), chegou a 600 soldados/ano. Repita-se: num só ano perdemos mais do dobro dos 58 mil americanos mortos nos 12 anos no Vietnã. 

Nossa batalha diária é perdida nos hospitais mal aparelhados ou sem profissionais; nas rodovias sem manutenção; na alta carga tributária que inviabilizam empregos e contratos;  nos desvio dos recursos da educação (e merenda escolar); na falta de comida e salário nos rincões abandonados do país. Também em face dos programas de TV com mensagens sem ética a desagregar famílias, ou provocador do consumismo frustrante, e, o sensacionalismo negativo de toda a mídia  ignorando valores humanitários.

Monteiro Lobato nos alertava: “Um país se faz com homens e livros”, pois, na raiz de todos males está o baixo grau de cultura e educação. Cingapura, Coreia, Japão, são bons exemplos de como, através de fortes investimentos na educação, se chega ao 1º. mundo.

Impressionante é o crescimento da criminalidade no Brasil como consequência da venda de drogas. Não produzimos cocaína, maconha ou crack, etc., mas, cruzam nossas  fronteiras à toneladas, debaixo do olhar das autoridades. Necessitamos encontrar um caminho civilizado, fraterno e justo, e que a sociedade se eduque, se humanize; e que o Governo enxergue a realidade e atue com responsabilidade social, ou, dificilmente, o país será respeitado pelos demais povos.

Essa violência desumana causa temor, seja entre nós, seja mundo afora, e um distanciamento das pessoas comprovado também por números: estrangeiros que visitam o Brasil  -  belo e tropical -  somam 6 milhões/ano.  Porém,  ao nosso lado, o pequeno Uruguai recebe mais visitantes/ano do que o número de habitantes do país: 3 milhões.  No México, chegam a 24 milhões/ano  (4 vezes mais que o Brasil).  

Hoje a informação não tem fronteiras e ninguém esconde seus erros. Entre visitar nossas belezas com risco de perder a vida, o estrangeiro opta de modo transparente:  prefere um local de  paz.

(*) Desembargador e Ouvidor do TJMG

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