ARTICULISTAS

A borracha de duas cores

Ah, como eu gostaria de ainda ter o poder de apagar coisas mal-escritas com a minha borracha

Solange de Melo M. N. Borges
Publicado em 18/07/2018 às 21:19Atualizado em 17/12/2022 às 11:36
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Ah, como eu gostaria de ainda ter o poder de apagar coisas mal-escritas com a minha borracha de duas cores! Nesse exato momento em que me delicio com as lembranças de um tempo que já faz tempo e, ao mesmo tempo, acompanho o pensamento reflexivo e a mente intrigada da economista e articulista Marcia Moreno Campos, no seu artigo de 8 de julho de 2018, Jornal da Manhã, no qual ela questiona a borracha duas cores como objeto de licitação da Câmara Municipal de Uberaba, recebo, via plantão jornalístico, a notícia do habeas corpus concedido ao ex-presidente Lula, preso desde abril deste ano.

 Condenado a mais de doze anos por crimes cometidos durante o seu mandato de Chefe de Estado, mandatário que recebeu milhões de votos de confiança dos brasileiros que o queriam para representá-los, esse indivíduo comandou a maior e mais bem montada rede, sob a chancela dos compromissos com as posições ideológicas do PT, de um processo de corrupção jamais conhecido pelos observadores mundiais. A limitada capacidade de gestão dos agentes políticos no poder, um discurso hipócrita e autoritário de melhoria de vida para a população mais carente, conjugados a uma falta de claridade das questões econômicas e das resoluções jurídicas, produziram erros grosseiros nos procedimentos públicos.

Um governo cada vez mais distante da cobrança dos cidadãos, o inconformismo e a insatisfação de boa parte da população não foram suficientes para barrar a continuação da mais profunda frustração política da história do Brasil. A esperteza dos agentes políticos, comandados pelo Grande Chefe, continuava a disseminar entre os incautos o sentimento popular de realizar as aspirações dos pobres. Desordenado, improvisador e raivoso, o ex-presidente intimidava a todos com os seus modos grosseiros e vulgares, nem sempre nessa mesma ordem.

Gente sórdida, perversa e ladra contaminou todos os setores da sociedade brasileira. As nossas instituições, as nossas leis e as nossas hierarquias foram afrontadas por esses elementos e, ora sem reagir, ora coniventes transformaram-se em instrumentos de subalternalidade das vontades do grupo que a cada dia promovia saques nos cofres das empresas, das prefeituras, dos ministérios e de onde pudessem. As perdas foram irreparáveis. O país está paralisado pela escassez dos recursos que foram desviados para contas particulares em paraísos fiscais, imóveis, joias, automóveis de luxo e incontáveis outras aplicações.

Enfim, queria eu que ainda fosse possível usar o poder mágico da borracha de duas cores, não para ser usada sobre a tão apagada atuação do Legislativo municipal, pois aqui o lápis é tão fraquinho que daria para usar a borracha branca. Queria, sim, apagar com força esse período da história do nosso país que foi escrito forçando a mão sobre as nossas riquezas e sobre a nossa dignidade. Roubaram-nos a esperança. Merecem prisão para sempre!

(*) Preofessora, economista

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