Parece nome próprio feminino, mas não é. Desídia é substantivo comum, do gênero feminino sim, mas é um palavrão dentro do ambiente de trabalho. Significa o uso do jeitinho para eliminar ou diminuir o esforço no trabalho. Embora não seja uma falta muito comentada no nosso cotidiano, dominado pela farta exploração de outros assuntos, o empenho de alguns empregados de livrar-se do batente, do trabalho, do expediente é prática recorrente e tão antiga quanto as relações de trabalho, em que se troca bem ele, o esforço, por dinheiro.
Entre as multifacetadas causas do ócio contemporâneo – que vão desde a vigorosa disposição de conversar com todos até o sono incontrolável diante dos papéis – está em disparada vantagem ninguém menos que a terrível internet e suas minimizáveis janelinhas maravilhosas. O exploradíssimo recurso permite que o desidioso abandone virtualmente a sua mesa de trabalho durante a jornada laboral. Quem o observa talvez até se convença de que está no cumprimento das obrigações, mas ele pode estar em qualquer lugar do mundo, menos ali. Com ar compenetrado, o sujeito está longe, em animadas discussões com amigos, namoradas e sabe-se lá quem mais.
Ok, convenhamos, ninguém resiste a um dia inteiro de trabalho sem dar uma olhadinha nos e-mails, na conta bancária ou no preço daquilo que se pretende ter em casa. Bem assim é o relacionamento interpessoal no local de trabalho, saudável e producente. Tudo isso é bom para todos, desde que se use com moderação.
Deixar sempre que possível as tarefas que devem ser divididas, para poucos executarem, fere o princípio da proporcionalidade. Trabalho é como dinheir se um tem muito, outros têm pouco. Ou nada. A repetição da falta pelo empregado é uma das características da existência de desídia.
Então, se recomenda cuidado para quem a pratica. Não deixe que seu chefe veja. Ou, pelo menos, faça de modo que ele possa pelo menos dizer que não viu.
Desídia dá justa causa. Inclusive para o chefe.
(*) Escritor e contador de estórias