“Eu sou assim: bato o olho no sujeito e já vejo se o cara presta ou não. Não erro um.”
Esta é uma frase de efeito, pesada. Impacta. Já muito se ouviu a pronunciarem tantos pela vida afora. Ao longo de mais de cinco décadas nessa minha passagem por este pobre mundo, vi estarem erradas as pessoas que disseram isso quase tantas vezes quanto o disseram. E quantas amizades se consumaram, quantos casamentos aconteceram e deles surgiram filhos tão maravilhosos quanto seus pais. E tantos foram os começos com os sapientes de plantão dizendo que alguém ali não prestava.
Então. Isso acontece de graça? Claro que não. É a vida falando com a gente! É ela dizendo que nós sempre podemos estar enganados sobre isso ou aquilo ou aquele.
Não, ninguém pode bater no peito dizendo que conhece alguém antes de conhecer de fato. “Pré conceito, pré julgamento e pré condenação”. Tanto pré me deixa preocupado.
Muita injustiça se comete assim. É muito importante que as pessoas se coloquem no lugar das outras.
Recentemente, assisti a uma palestra em que uma psicóloga declarou que as empresas estão utilizando como critério de aprovação de candidatos a empregos a sua dedicação a algum serviço voluntário. É nesta condição que o indivíduo vive mais intensamente a experiência de se ver no lugar do próximo, num processo crescente de humanização dos ambientes laborais em que só há ganhadores.
Ninguém gostaria de ser considerado como alguém menor do que aquilo que realmente é, só pelo olhar de um sabichão. Sexto sentido é bom. Mas, por favor, não aposte nele todas as suas fichas. Ele falha muito mais do que se imagina e nem merece o crédito que tem. Deixe que os sentidos deem lugar aos sentimentos. Taxar alguém pelas aparências é leviano. Este mesmo cara com a cara de quem você não foi, pode um dia ser o dono da única mão estendida na sua direção.
Portanto, deixe de lado esse tal faro contra novos irmãos que cruzarem o seu caminho, vendo-os assim: como irmãos e que vieram a você para acrescentar algo à sua vida, até que mostrem o contrário.
A primeira impressão é só isso mesmo. A primeira impressão.
Agora, eu, quando bato o olho em alguém... dói pra burro!
(*) Escritor
