ARTICULISTAS

Sim, vale a pena

Vivemos a vida em constante e, por vezes, inconsciente preparação para perdermos pessoas

Carlos Alberto de Oliveira
Publicado em 05/11/2014 às 20:34Atualizado em 16/12/2022 às 03:48
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Vivemos a vida em constante e, por vezes, inconsciente preparação para perdermos pessoas que amamos. A começar pelos nossos pais. São as primeiras dores por perdas que poderemos ter, razão das primeiras lágrimas temerosas de uma criança, mas na inocência infantil, são dores apenas possíveis. Nossas mentezinhas maravilhosamente imaturas são capazes de, no máximo, considerar as possibilidades. Torná-las probabilidades é por demais insuportável. Mas por qual motivo a vida tem que ser assim, crivada de perdas? Por que raios não podemos conviver com todos os nossos amados e irmos embora todos juntos? Que tamanha imperfeição do Criador, submeter-nos todos ao sofrimento supremo! A vida não precisava ser assim. Não precisava que a morte fizesse parte dela. Ou precisava?

Ninguém conhece a resposta. Mas todos sabemos que assim é. Viver é a arte de conviver. A felicidade está na qualidade dessa convivência; algo que pode ser tão divino quanto a própria ânsia de viver. Viver pode ser uma experiência tão boa, que nos permita aceitar de coração sereno que a morte pode ser a doce transição para uma vida sem morte.

Amar é a única razão capaz de justificar viver. O único alento para tanto sofrimento. Pais, irmãos, filhos, sobrinhos... uma mulher... um homem... Por isso tudo vale a pena viver. Viver para os amar. Saudade, só se tem daquilo que é bom.

Que infinita perfeição do Criador! Presentear-nos a todos com alguém a quem amar, e dar-nos a todos o prazer supremo de desfrutar de suas companhias! Ainda bem que a vida é assim.

Muito pior do que ter de separar-se de alguém amado é não ter tido ninguém a quem tenhamos podido dedicar os nossos pensamentos, alguém por quem não tenhamos nunca derramado uma lágrima de arrependimento, de desejo de reconciliação, de felicidade, alguém que nos tenha causado alguma emoção, alguém por quem provavelmente teríamos dado a nossa própria vida.

Alguém cuja simples existência nos faça felizes.

(*) Escritor e contador de história e estórias

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