Desonroso, indecente, indecoroso, indigno.
Por aqui é ato institucional limpar os cofres de um ministério, caso o titular da pasta pressinta que o seu reinado vai dançar. E vejam que estamos falando de um ministro de Estado. Só isso. São os ratos fazendo turismo pelos ministérios. No caso presente, o gastão meteu a mão em nada menos que R$ 50 milhões. É a picaretagem enchendo o bucho com as mamatas nas tetas públicas que dão dinheiro.
O esgoto do dinheiro público não passa só por aqui. Toda a nação onde impera a impunidade convive com o cheiro podre da injustiça. Mas em alguns governos são valetas a céu aberto. Uma coisa dessas vira manchete de jornal e pronto. Até pronunciamento oficial dos mais altos mandatários da República sobre o fato pode ser que ouçamos em cadeia nacional. Mas cadeia mesmo, a jaula, ninguém vai nem cogitar. Prender, nem pensar.
Por aí também seguiu o Senado. A nobilíssima seleção de engravatados empurrou para de baixo do tapete, olhando para cima e assobiando, a possibilidade da redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. Em tempos em que se morre por tudo e por nada; tempos em que as autorias são cada vez mais de moleques adolescentes, quando o clamor do povo é um uníssono que não deixa dúvidas, eis que surge outra voz, a do governo, e opera a decepção do Homem pelo Homem.
Além de agradar seu líder, a turma garante que a cortina de fumaça que a violência oferece continue diluindo o interesse popular entre os crimes de rua e os de câmara. Procure conhecer seus políticos. Se for o caso, negue-lhes o privilégio de representá-lo. Dar a ele um mandato é como dar a um bandido ameaçador, condenado pela Justiça, o burlesco direito de passar um feriado em casa.
(*) Escritor e contador de histórias e estórias
