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...ou mudemos a bandeira

Era menino quando estive em Brasília

Leonardo José Silveira
Publicado em 09/04/2013 às 20:20Atualizado em 19/12/2022 às 13:46
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Era menino quando estive em Brasília, no ano de 1992. Fiquei deslumbrado com tamanha utopia. O Plano Piloto, a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes são, a meu ver, expressão pura da genialidade de Lúcio Costa e Niemeyer. A capital federal para mim personificava a "Ordem e Progresso" estampados na bandeira. Num dos muitos passeios pelo Plano avistei um extenso canteiro de obras. Meu primo, que fazia as vezes de guia, me disse se tratar da construção do metrô. Tempos depois, em outra visita, vi que a única coisa que avançou por lá foram as favelas. A obra do metrô, que seria inaugurado em 1994, estava atrasada e sem nenhuma previsão de conclusão. Inauguração mesmo somente em 2001 - sete anos após a data prevista de entrega e nove do início das obras.

Recentemente, um telejornal denunciou a demora na entrega de inúmeras obras públicas importantes no país, entre elas hidrelétricas, campos de energia eólica, refinarias e a complexa transposição do São Francisco. Tudo atrasado e necessitando de mais recursos para finalização. Por aqui, isso também não é novidade, basta lembrar a duplicação da BR-050, que levou mais de uma década até chegar a Uberlândia. Em um dos trechos, por exemplo, logo após a ponte do rio Uberaba, retiraram as rochas, fizeram a terraplenagem e paralisaram os trabalhos. O mato cresceu, a chuva trouxe erosão e tempos depois refizeram tudo novamente; paralisou e a mesma sequência se seguiu. O trabalho refeito várias vezes, provavelmente cobrado várias vezes... Por último, as obras de mobilidade urbana, Projeto Água Viva e hospital regional, que pelo planejamento eram para ser entregues em 2012, estão paradas. A população é mais uma vez prejudicada pela ausência do serviço proposto e o consecutivo aumento no seu custo final.

Admira-me constatar que em países sérios as grandes obras de engenharia atendem a cronogramas, prazos e custos. Alguns dos maiores empreendimentos do mundo como o Aeroporto de Pequim, a ponte Qingdao Haiwan, ambos na China; o Eurotúnel que liga Paris a Londres; o viaduto Millau na França foram construídos em prazos razoáveis. Aqui é comum a conclusão das obras ultrapassar para além de uma década e se tornar elefante branco.

Superfaturamento, emprego de material de qualidade inferior, técnicas obsoletas, planejamentos mal-elaborados, fraudes nas licitações, obras paralisadas ou inacabadas. O mau uso do dinheiro público se reverte quase sempre em obras de má qualidade e pouca durabilidade, que em curto prazo demandam novos investimentos para reparos, isso quando não provoca algum acidente, que resultará em indenizações a serem pagas mais uma vez pelo contribuinte.

Hoje, Brasília é para mim sinônimo de vergonha, desordem e retrocesso. Administro o desalento que sinto tentando cultivar a velha e boa esperança do brasileiro de que uma hora as coisas melhorem.

(*) Técnico em Assuntos Educacionais da UFTM

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