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O Brasil não converge com o capitalismo avançado

O Brasil é um país subdesenvolvido industrializado. Isso significa que o país possui um sistema

Paulo Nogueira
Publicado em 06/03/2015 às 22:22Atualizado em 17/12/2022 às 01:08
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O Brasil é um país subdesenvolvido industrializado. Isso significa que o país possui um sistema político-econômico vinculado ao capitalismo. Esse processo promove a apresentação, no país, da maioria das empresas da iniciativa privada, que têm como principal finalidade a busca incessante de lucros. Dessa forma, o conjunto de atividades econômicas influencia diretamente na configuração da economia nacional. O essencial do que aconteceu no mundo nos últimos 15 anos é o deslocamento do eixo da acumulação global dos países avançados para os países emergentes. O núcleo da demanda global e também a mais alta taxa de crescimento, atual e potencial, residem agora no mundo emergente, o que atrai em grande escala o investimento transnacional, além dos níveis do mundo avançado, berço e origem da acumulação capitalista. Esta é a globalização como fenômeno central da época, desde que se estendeu aos países emergentes a partir do colapso da União Soviética e da unificação do sistema (1991). No capitalismo há um processo de sinal inverso, de maior importância histórica ainda que a globalização. É a convergência (incremento da produtividade + alta da receita per capita) dos países emergentes em direção aos avançados, cuja cabeça são os EUA (país-fronteira do sistema), que abriga o núcleo da inovação tecnológica e constantemente redefine o marco do possível. A primeira coisa que se adverte nessa segunda tendência é que dois dos três principais países emergentes (Brasil e Índia) estão fora do círculo de convergência e que este é liderado pelo terceiro país (China), cujos níveis de alta da produtividade e auge de receita per capita (9% e 8% ao ano, respectivamente) são mais elevados que os dos EUA. A taxa de crescimento média do Brasil nos últimos cinco anos é de 2% anual (1,6% em 2014), coincidente com um nível de expansão potencial de dois por cento ao ano, ou menos, virtual estagnação. A produtividade também parou de crescer, sobretudo na indústria manufatureira (+1% por ano a partir de 2007), o que se transformou na causa fundamental de sua aguda desindustrialização. Algo semelhante acontece na Índia. A taxa de crescimento caiu para a metade nos últimos 10 anos (5,5 por cento vs. 10% anual) e a expansão potencial diminuiu de maneira equivalente. O resultado é uma taxa de inflação de 8,5% anual, arrastada por uma alta dos alimentos de 14%/16% e uma virtual incapacidade para criar suficientes vagas de trabalho que permitam ocupar o milhão de jovens que se incorporam todos os meses ao mercado. Por isso o gigantesco crescimento da estrutura de subsídios (alimentos, combustíveis, transportes), que provocam um déficit fiscal de 4,5%/5% do PIB. O problema do Brasil (ou da Índia) não é a estagnação, mas a exclusão do círculo de convergência com a fronteira tecnológica da época. Isso acontece no contexto de uma nova revolução industrial nos EUA, que torna qualitativo o abismo de competitividade com a manufatura brasileira. O Brasil se incorporou ao processo de globalização em 1994, quando o Plano Real esmagou a hiperinflação. Depois ratificou essa incorporação com o ponto de inflexão que foi a “Carta ao povo brasileiro” de Lula na campanha eleitoral de 2002. O que ainda não chegou é um ponto de inflexão na convergência com os países avançados, divergência que destina o Brasil a uma crescente irrelevância. O setor transnacional é o fator fundamental de convergência da China, que representa 25% do PIB industrial, mais de 60% das exportações e seu nível de produtividade é nove vezes superior ao da economia doméstica.

(*) Jornalista; membro da Associação Brasileira e Jornalismo Científico

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