O tempo e os acontecimentos agradáveis insistem em permanecer em nós. Na adolescência, nas madrugadas de sexta para sábado, saia para a noite como um touro bravo em busca de liquidar o toureiro com seus sonhos. A vida era uma arena e eu um touro instintivo, aventureiro, atuante neste cenário adverso.
Depois dos bailes festivos, brigava com meus contemporâneos por disputas amorosas. Hoje a disputa é pela cidade, porém totalmente civilizada. Tive que mudar da luz da Cemig para a luz solar e me instrumentalizar de racionalidade, pois a disputa diurna exige argumentos explícitos de fundamentos racionais. Lembro-me de meu pai, exímio observador, ao ver meus procedimentos noturnos de fim de semana, dizia ser incompatível durante o dia um dia ser doutor na mesma cidade.
Mesmo naqueles tempos de madrugadas perdidas, encontrava-me nos fins delas, nos Correios da cidade e na rodoviária. Eram dois lugares estratégicos. Dos Correios mandava as primeiras ideias pueris. Na rodoviária tinha uma inveja da geração que à minha antecedia, que depois do carnaval iria pegar o ônibus para estudar em Belo Horizonte. Com 14 anos, meus sonhos eram bem maiores que com o espaço geográfico do que meu pequeno Coqueiral. Pensava: será que vou passar a vida inteira escutando os barulhos dos tratores nas manhãs coqueirenses?
Os mares revoltosos das madrugadas de adolescente me ensinaram a nadar de braçada.
Hoje aprendi a enfrentar o mar em qualquer circunstancias. A usar a inteligência na adversidade e não o instinto agressivo. Sei que a vida continua a mesma arena. Só que inverti os papeis passei de touro a toureiro que vence o animal persuadindo e no balé dos passos vindo dos sinais da mente.
Quanto às agressivas madrugadas de adolescentes, não foram totalmente perdidas. Aprendi a nadar de braçada nesta produtiva bem comportada e racional rotina atual.