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Mais uma catástrofe

O que aconteceu em Mariana, e agora em Brumadinho, é o retrato perfeito de um desenvolvimento sem sustentabilidade

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 01/02/2019 às 18:19Atualizado em 17/12/2022 às 17:50
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O que aconteceu em Mariana, e agora em Brumadinho, é o retrato perfeito de um desenvolvimento sem sustentabilidade. E, certamente, isso não vai parar por aí se não houver uma ação efetiva de penalidade do Ministério Público. Existe um relaxamento e uma conivência de autoridades permitindo que o flagelo se repita. Na região do Triângulo Mineiro, isso pode se repetir. Tomara que não! 

Não somos contra o processo de desenvolvimento e nem contra as mineradoras. Mas é inconcebível ver vidas humanas sendo ceifadas da forma como tudo está acontecendo. Os responsáveis têm sido alertados por moradores das regiões próximas de rejeitos e não são levados em conta pelas empresas. Isso aconteceu no fato de Mariana e, também, nesse de Brumadinho.

Da catástrofe de Mariana eu ouvi pessoalmente de uma senhora, de Bento Rodrigues e não levada pela lama, que, dias antes do fato, numa reunião com os técnicos da empresa e os moradores locais, alguém da comunidade alertou sobre o perigo da represa e recebeu como resposta grosseira de um técnic “Vocês não entendem nada disso. Nós, técnicos, é que entendemos”.

Parece que não existe culpado diante desses cenários catastróficos. O Papa Francisco diz que devemos agir contra uma economia de exclusão, que mata, e está matando, como estamos presenciando no Brasil. Para o grande mercado, as grandes empresas, a morte de pessoas tem menos valor do que a notícia da descida de dois pontos na Bolsa de Valores (cf. EG, 53).

Vivemos um momento de indignação, de revolta e de dor. Quantas famílias espalhadas pelo país em situação de luto, de incertezas e de falência na sua história de vida. Ninguém recupera e nem paga o valor de uma vida humana. Sem falar dos estragos naturais provocados por essas grandes empresas, em grande parte pela ganância na conquista de mercados privilegiados.

A vocação do ser humano tem muito a ver com a santidade. Passa por um caminho capaz de levar a pessoa à conquista da verdadeira felicidade. Não significa ser majoritário na quantidade de valores materiais. A vida com qualidade está acima de tudo e ela pertence a Deus. Isso significa que tudo passa, a morte é para todos. O que fica é o que é feito de bem, de justiça e de honestidade. 

(*) Arcebispo de Uberaba

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