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Alfredo Bosi: a sociologia da literatura, ideologia e contraideologia

Ao conceder entrevista ao Jornal Gazeta do Povo/Rascunho, reproduzida no Portal Vermelho...

Wellington Félix Cornélio (Zuzu)
Publicado em 28/05/2012 às 08:22Atualizado em 19/12/2022 às 19:27
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Ao conceder entrevista ao Jornal Gazeta do Povo/Rascunho, reproduzida no Portal Vermelho (ambos na rede mundial de computadores – Internet), o professor e crítico literário brasileiro Alfredo Bosi falou sobre seu mais recente livro, Ideologia e Contraideologia (2010), e destacou ainda, o que denomina de sociologia da literatura.

A. Bosi teve uma formação inicial com as obras de Benedetto Croce, autor que defendia puramente a estética e insistia na separação, na divisã “Ciência é ciência, filosofia é filosofia, sociologia é sociologia, arte é arte. Arte é imagem e sentimento. As ciências humanas têm uma relação direta com a realidade, ou procuram ter, e têm obrigação de dar ao seu leitor a veracidade de suas conclusões.”

Inobstante as posições de Croce, o grande professor foi desenvolvendo novas percepções, estabelecendo um diferencial entre universo literário (ou de imaginação) e as relações da literatura com a cultura e a antropologia; ou como explica melhor, um universo que projeta a subjetividade e, paralelamente, a algo público, uma atmosfera cultural, social, pública.

Revelou que, ao longo de sua vida, sentia-se um mal-estar com esta dicotomia e problematizou: ou se estabelecia uma autonomia da escrita de tudo que ficava em torno, o estético; ou o contrário, colocava-se “luz no período todo”, onde deveria ser considerado pelos autores, valores e ideias do universo, o que seria a posição da sociologia da literatura, do marxismo; em geral, das posições culturalistas.

Por muitos anos, tal inquietude fez parte da trajetória de A. Bosi, que teorizando Adorno (marxista da Escola de Frankfurt que valorizou a subjetividade, do ponto de vista individual) em: “a grandeza do poema é aquilo que a ideologia esconde”, sentiu-se um pouco mais confortável com tal epígrafe.

Mas foi quando, ironicamente recorrendo ao autor de sua formação inicial, Croce, que obteve exatamente a resoluta liçã “devemos separar conceitualmente poesia e não-poesia.”.

É justamente nesta oportunidade, com a divisão entre universo literário e sociologia da literatura, que compreendeu a separação de outros dois importantes conceitos, o que chamou em termos sociológicos e modernos, “separar ideologia e contraideologia.”.

Entre outras palavras, A. Bosi traduziu o que Adorno se referia acima, “a contraideologia é um movimento individualizante que faz com que o singular apareça; aquele singular que parecia inteiramente absorvido pela universalidade da ideologia dominante está lá, pulsando. E é ele que vai dizer coisas que durante séculos e séculos serão repetidas e a gente vai ler e vai se comover com aquilo.”

Desta forma, convencido da importância, superadas as dicotomias e divisões, entendendo o processo de percepção da realidade, o exímio crítico literário voltou-se para o mundo dos valores, das ideologias, concluindo que era preciso, em cada período, as tendências contrastantes de ideologia e contraideologia.

A partir daí, houve sempre uma preocupação em mostrar o traço sociológico, o traço social e histórico, a “sociologia da literatura” e isso estabeleceu um novo “olhar literário” e uma nova forma de produção intelectual na contemporaneidade.

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