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Vamos resgatar a moeda da gratidão...

Tinha aproximadamente quatro ou cinco anos, morava na propriedade que meu pai possuía

José Humberto da Cunha
Publicado em 25/12/2014 às 10:04Atualizado em 17/12/2022 às 02:06
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Tinha aproximadamente quatro ou cinco anos, morava na propriedade que meu pai possuía no município vizinho de Conquista, quando começamos a receber a visita de um personagem, com postura sóbria, olhar altaneiro, próprios dos visionários, daqueles que sabem o que falam e, sobretudo, o que querem. Posso afirmar que foram as primeiras lições que recebi sobre “como perseguir objetivos”. Sentava à sala com todo interesse em vê-lo expor, ao meu pai, seus ideais dentro da linha de pensamento político partidário que defendia. Eram horas e mais horas ouvindo-o com bastante atenção e interesse. Talvez nem tanto pelo assunto mas, sobretudo, por admiração de vê-lo como expressar. Este personagem a quem estou me referindo é a figura do eminente deputado, embaixador, escritor, acadêmico e, principalmente para mim, Professor Mário Palmério. Com ele, mudamos para Conquista onde, incentivando meu pai na política, lançou-o candidato a prefeito daquela cidade.

Durante a campanha vi (parafraseando Camões), “claramente visto” outra característica marcante deste intimorato quando, lembro-me como se fosse hoje enfrentou, num comício em praça pública, os “jagunços” dos coronéis do partido contrário. Ele era realmente valente, no bom sentido, rumo à sua visão de futur Educação e Saúde (pilares do Desenvolvimento). Posteriormente, com o resultado das eleições, que não poderia ter sido outro, já que falcatruas foram praticadas, desde o assalto aos eleitores para lhes tomarem as cédulas que portavam, até troca de urnas, ao final de apuração quando o placar não lhes indicava ser favorável. As consequências dessas práticas são óbvias quanto aos resultados finais.  

Ainda sob sua orientação viemos para Uberaba, onde meu pai foi colocado no extinto Samdu (trazido por ele), uma verdadeira inovação na Saúde para a época. Eu fui cursar, sem pagar um centavo sequer, o curso ginasial no seu Colégio do Triângulo Mineiro, cujas atividades se encontram encerradas. Entretanto, as escolas de nível superior, também trazidas pelo eminente mestre, já estavam em pleno funcionamento. Hoje, transformada na Universidade de Uberaba, com mestres renomados celeiro de vários talentos.

Antes de ir embora de Uberaba (1971) senti, talvez mais do que ele, um duro golpe de ingratidão. Não ser eleito prefeito (em 1970) pela cidade em que tanto fez.

Agora retornando, após mais de quarenta (40) anos, ainda percebo latente esta lacuna que é a falta de reconhecimento e gratidão. É a inversão de valores, que acontece num país que clama por desenvolvimento, quando se privilegiam outros segmentos (gado e cana de açúcar, etc.) também importantes para a economia do país, porém anos luz atrás de suas maiores carências que são Educação e Saúde. Esta última, atendida totalmente, através da monumental (sem sofisticação) obra edificada pelo seu filho Marcelo, que é o Hospital Universitário Mário Palmério.       

Então, meus conterrâneos e, principalmente, os que se dizem políticos, nesta terra, vamos resgatar a moeda de maior valor: a moeda da gratidão. Quanto a mim, lhe sou eternamente grato, meu grande, inesquecível e primeiro professor Mário Palmério.

(*) acadêmico de Direito

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