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Certeza de quê?

A certeza – caráter do que é considerado certo, convicção de indiscutível

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 02/04/2015 às 19:44Atualizado em 17/12/2022 às 00:44
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A certeza – caráter do que é considerado certo, convicção de indiscutível conhecimento – é ideal e objetivo de muitos.

Mas, ela existe? Pode-se ter certeza de algo ou de alguém?

É no próprio processo que se percebe, como já ensinaram os gregos, quando a Filosofia deixou de falar a partir da verdade, para aspirar à verdade. “Não sabemos que não sabemos”. Ou, ainda, segundo Von Foerster, “não sabíamos que não sabíamos”, e que diz: “Os dogmas do cientificismo talvez representem a herança mais onerosa da modernidade. Mais invasivos que os dogmas religiosos, com frequência alimentaram um racionalismo prepotente e desmedido que pretendeu explicar tudo, impelindo à margem os inúmeros aspectos não racionalizáveis da vida humana: instintos, pulsões, angústias, sentimentos, paixões”.

O fim das certezas não é o fim da Ciência. É porque ignoramos que queremos aprender, conhecer, “saber que não se sabe é o princípio da autêntica sabedoria”, conforme Sócrates e Platão.

Houve uma gradual perda de confiança na certeza.

No campo das Ciências e das humanidades, ouve o questionamento da teoria da causalidade. Desde Aristóteles, “conhecer é conhecer pela causa”. No final do século XIX e começo do século XX, David Hume, o filósofo escocês, mostrou que raciocinávamos apenas por hábito e dizíamos conhecer a causa quando nos limitávamos a relacionar algo que ocorria antes com o que vinha depois, mas sem demonstrar a conexão entre causa e efeito. Mas a causalidade só foi abandonada pela Ciência, com o início da teoria quântica, onde se explica que existem certos pares de propriedade das quais, quanto mais se sabe a respeito de uma, menos é possível saber sobre a outra. Quando mais se medir a velocidade de uma partícula, menos seguro se está de sua posição. Assim, “há um limite genuíno, absoluto, para o conhecimento humano”. Einstein já temia que os processos quânticos ameaçavam a causalidade.

Se há invenção no pensamento, criação, há transgressão em relação à Lógica. A Lógica é verificadora, está a serviço do pensamento; não é o pensamento que está a serviço da Lógica”, conforme Edgar Morin.

No final do século XIX e início do século XX, a crença de que o homem era senhor de seu destino foi abalada. Nietzche, Marx e Freud, os “mestres da suspeita”, por Michel Foucault, manifestaram-se. Nietzsche mostrou que não existem fatos, mas interpretações. Marx aponta que a consciência é determinada pelas condições materiais de existência. E Freud afirma que a maior parte dos comportamentos é determinada pelo inconsciente, e não pela consciência. Assim, passamos a viver, a partir do começo do século XX, a era das incertezas.

(*) Psicóloga Clínica

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