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O dia seguinte

Há duas semanas da eleição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou carta contendo sua apreensão

Aristóteles Atheniense
Publicado em 03/10/2018 às 20:37Atualizado em 17/12/2022 às 14:07
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A duas semanas da eleição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou carta contendo sua apreensão com o quadro político do momento, ao fim de uma campanha eleitoral marcada por ressentimentos e bravatas.

A fragmentação do centro e a polarização ideológica dos extremos concorreram para a divulgação de mensagem que importou em chamamento contra a insensatez, na falta de consenso para uma conciliação nacional.

As perspectivas desta situação, marcadas por discursos populistas e demagógicos, são as mais sombrias. O descalabro repercutiu no exterior, despertando a atenção da prestigiosa revista britânica “Economist”, que viu na economia brasileira “um desastre”, enquanto que “a política está completamente podre”.

A Presidência da República é disputada por duas facções que não buscam a manutenção e o aperfeiçoamento da democracia. De um lado, o PSL, direcionando suas armas contra o PT, sem oferecer soluções efetivas para os males herdados do governo lulista, ao longo de quinze anos.

De outro, o populismo barato de um partido que pretende retornar ao poder mediante ideias soltas, incapazes de colocar o País no rumo do progresso econômico-social.

Até agora, não houve a indicação de uma terapêutica eficaz contra os males que devam ser debelados, seja a curto ou longo prazo. Os partidos duelam, revelando a incapacidade de empreender a reconstrução nacional numa crise que se aprofunda a cada dia.

As coligações adotaram em comum a censura ao governo Temer, que, embora não sendo um primor, como revelam as pesquisas, empenhou-se na luta contra a inflação através de medidas destinadas a conter a recessão.

A tentativa do atual governo em racionalizar as despesas, instituindo um teto de gastos, é alvo das críticas dos candidatos que pugnam pela sua revogação. A esses, pouco importa se a destruição do que foi feito possa importar na demolição de um dos pilares da responsabilidade fiscal e da estrutura mínima da estabilidade econômica.

Mesmo que estas providências sejam impopulares, devem ser vistas como sendo conquista da sociedade brasileira após anos e anos de balburdia das contas públicas, com reflexo negativo no processo inflacionário.

Finda a contenda eleitoral, impõe-se um urgente entendimento dos bandos conflitantes que seja marcado pelo bom senso, acima das paixões, buscando o crescimento da economia com equilíbrio das contas públicas.

Em caso contrário, o desastre econômico que se avizinha será convertido em realidade, em consequência da batalha ideológica travada entre esquerda e direita.

Por tudo isso, a proposta de Fernando Henrique Cardoso, ainda que atrasada, não é válida somente para a fase pré-eleitoral. Deverá ser levada em conta assim que conhecidos os números do pleito, merecendo ser refletida por homens de bem, longe dos alaridos inconsequentes e das rusgas ideológicas.

Se assim não for, o “day after” não comportará outra previsão senão o afogamento iminente em que todos submergirão. 

(*) Advogado e conselheiro nato da OAB; diretor do IAB e do iamg

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