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As novas diretrizes do ensino médio

Luiz Carlos Amorim
Publicado em 16/05/2011 às 22:24Atualizado em 20/12/2022 às 00:18
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O Conselho Nacional de Educação acaba de aprovar mudanças no ensino médio – o Ministério da Educação ainda precisa homologar, mas parece que está tudo arranjado.

Estive verificando as mudanças e não gostei nada do que vi. Fizeram mudanças no ensino fundamental, na década passada, há poucos anos, e o resultado não foi bom: a alfabetização, que sempre foi eficiente, agora tem uma sistemática totalmente diferente. Ensina crianças, primeiro, a escrever com letra de forma, o que torna um problema ensiná-las a escrita cursiva. Antes ensinava com a letra de imprensa, apenas para o reconhecimento dos caracteres impressos nos livros e outras publicações. As famílias de sílabas, que iniciavam as crianças na leitura das palavras não é mais usada elas têm que reconhecer o encontro de consoantes e vogais “por repetição”, meio por simbiose, pois são jogadas sílabas para formarem palavras, por exemplo, mas elas juntam sílabas sem saber o que está escrito. Por isso, temos crianças, hoje, no terceiro ano do ensino fundamental que não sabem ler e escrever. E como não existe mais reprovação - também uma das novidades do novo sistema - elas seguem em frente de qualquer maneira, mesmo que não tenham conseguido acompanhar o conteúdo dado.

Agora querem mudar o ensino médio, que já não é dos melhores e que, pelo visto, não ficará melhor. Pela nova sistemática, as escolas de ensino médio poderão optar por quatro novas disciplinas: ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Mas como, se atualmente o tempo em sala de aula não é suficiente para dar o conteúdo programático sem essas matérias? Ah, fácil: o projeto de mudança prevê o aumento de três para quatro anos a duração do ensino médio noturno.

E tem mais: para dar mais “autonomia”, cada escola poderá escolher entre quatro áreas de atuação para focar o seu currículo e poderá aumentar ou diminuir o número de horas-aula das disciplinas fundamentais como português ou matemática. Escola de uma região industrial, por exemplo, pode focar seu currículo na área de tecnologia e reduzir a carga horária de disciplinas como física e química. Tudo ótimo, mas e quem vai fiscalizar se isso está sendo feito corretamente? Parece-me que o Ministério da Educação (o governo do País, na verdade) está se desobrigando da responsabilidade da qualidade da educação brasileira para colocá-la nas costas das próprias escolas. Algo com a culpa da má qualidade do ensino médio não é nossa, é da escola que não soube usar a “flexibilização” que oferecemos. Outra dúvida: um Estado, uma cidade ou uma escola de determinada região, escolhe priorizar algumas disciplinas em detrimento de outras. Os estudantes que saírem dessa escola terão dificuldades não só para conseguir acesso à universidade, seja por vestibular ou Enem, mas também para se manterem nela, para acompanhar o currículo se conseguirem entrar no ensino superior.

Ah, mas com essa coisa de aumento de matérias aqui, diminuição de outro tanto acolá, aumento de carga horária de algumas e diminuição de outras, o projeto prevê uma saída sensacional: o CNE aprovou que a escola pode trabalhar até 20% de conteúdo a distância. Não é sensacional? A escola aumenta a quantidade de disciplinas ou de carga horária delas, mas não precisa dar a aula...

Além de tudo isso, o Senado aprovou um projeto de lei que eleva de 800 para 960 horas a carga horária mínima anual para o ensino fundamental e para o ensino médio. Mas, cá pra nós, uma coisa muito importante não é prevista em nenhum dos dois projetos que foram aprovados: não foi falado na adaptação dos professores para todas essas mudanças, na adequação para a implantação de tantas mudanças, muito menos em salário. Não sei não, parece que querem piorar ainda mais o ensino médio, ou será impressão minha?

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