Maquiavel e o Cardeal Mazarin estão mais vivos e atualizados na vida política brasileira do que provavelmente no tempo em que escreveram O Príncipe e O Breviário dos Políticos.
São duas obras que marcaram o seu tempo, dedicadas à eficácia na busca e no exercício do poder.
Ora, sabemos que, neste mundo globalizado, “a luta pelo poder se dá sob as mesmas regras, em que a lógica é a da dissimulação, do cinismo e da hipocrisia”.
A ideologia, nem se fala, é uma palavra oca em desuso, só serve para compor os princípios que regem os partidos, mas quase desconhecida dos políticos fisiológicos e muito menos dos filiados e eleitores.
O que prevalece, portanto, é o princípio de que os fins justificam os meios, pouco importando a coerência, a ética, a decência e a moralidade.
Ainda me lembro da ação proposta por um partido político contra Nilton Cardoso, sob o fundamento de corrupção e apropriação de recursos públicos no Estado de Minas.
Pouco tempo depois, o mesmo partido político, por seu mandatário, ostentava na mídia o apoio incondicional de Nilton Cardoso aos seus candidatos, e ninguém sabe dizer que fim levou o processo.
O que interessa primordialmente é o poder, ganhar a política de qualquer forma, ficar rico e acomodar os protegidos com salários polpudos.
Perder a política não é permitido, mesmo que tenha de abrir mão dos princípios mais elementares da ética e da moralidade.
Destarte, foi com muita surpresa e alegria que o Brasil recebeu a notícia veiculada na Folha de São Paulo do dia 20/06/2012, informando que a deputada Luiza Erundina, do PSB, deixou o posto de vice na chapa de Fernando Haddad, candidato a governador de São Paulo pelo PT, que aceitou o apoio de Paulo Maluf, na sua campanha.
Tudo em nome da coerência e da moralidade, pois já havia acusado o Paulo Maluf de corrupto e não poderia pedir votos e nem trabalhar com ele na campanha eleitoral.
Na realidade, a sociedade brasileira necessita de políticos e partidos fortes que possam vencer os desafios do século XXI, ampliando os direitos sociais e de proteção ao meio ambiente, inclusive formatando uma política de recursos hídricos e de acesso à informação, que valoriza a adversidade e combate o preconceito.
Todavia, sem políticos comprometidos com a ética e o desenvolvimento, continuaremos produzindo corruptos em todos os escalões do poder.
Ninguém é punido, como é de hábito, e a indústria da corrupção amealha recursos importantes destinados à população carente e desinformada, pois quase sempre reconduzem esses políticos.
O pior, conforme afirma o historiador Marco Antônio Villa, é que “o funcionamento dos três poderes é pífio e a participação popular se resume ao ato formal de, a cada dois anos, escolher candidatos em um processo marcado pela despolitização. A cada eleição diminui o interesse popular e os debates são marcados pela discussão vazia.”
O desafio maior hoje é restaurar a legitimidade do poder político, rever a cultura da sangria ética daqueles que usam os recursos da administração pública, como bem privado.
(*) Advogado e professor