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Águas de março e ecologia

Mário Salvador
Publicado em 19/03/2019 às 16:38Atualizado em 17/12/2022 às 19:08
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Ensina a tradição que, em 19 de março (ou em data próxima), acontece uma enchente que, por causa do santo do dia, ficou sendo a “enchente de São José”. Bem a propósito, juntamos as letras das músicas de Jorge Ben Jor e Tom Jobim: “Chove, chuva! Chove sem parar! São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu coração”. São as chuvas do verão, estação que iniciou em 21 de dezembro e terminará amanhã, dia 20.

Promessa de vida, mesmo. Chuva, para o produtor rural é sinônimo de pasto para o gado, boa colheita, mesa farta, dinheiro no bolso. E o agricultor que plantou a safrinha está feliz com tanta água caindo do céu. Mesmo que a chuva atrapalhe alguma colheita ou signifique algum prejuízo, o fazendeiro ainda prefere a chuva à seca. Para ele, chuva é bênção divina – uma dádiva. Não é à toa que poucos fazendeiros usam guarda-chuva. E são as chuvas que vão regular as reservas de água nas represas, para que não nos falte energia.

Enquanto na zona rural a chuva é bem-vinda, na urbana, o aguaceiro pode ser o caos: derruba árvores, complica o trânsito, provoca enchentes, alaga avenidas, residências e lojas, gera prejuízo, às vezes até causa mortes. E nessa hora, o lixo descartado incorretamente vira um problema. Mesmo assim, diferentemente do morador da zona rural, o da zona urbana raramente é punido por leis ambientais. O morador da zona rural, em Uberaba, não tem lugar onde possa fazer o descarte do lixo (nem o pode queimar). Antes havia, mas como esse lixo não era recolhido com a frequência necessária, os pontos de descarte ficavam cheios. Em vez de haver o aumento da frequência com que o lixo era recolhido, cortaram-se os pontos de descarte. Simples assim.

É possível mudar o curso dos veículos numa cidade e fazer com que todos obedeçam ao novo sistema; mas a respeito do curso das águas não se pode dizer o mesmo. Plantam-se cidades em cima do curso das águas, esperando-se que a natureza mude. Porém cidades que vão contra as regras da natureza são vítimas da força das águas – uma tragédia previsível.

Esta época é propícia para refletir sobre o fato de que, para Uberaba se tornar cidade de Primeiro Mundo, precisa praticar a sustentabilidade, com ideias básicas como estas: preservação do curso das águas de todas as formas; redução do lixo pelos diversos segmentos da sociedade; colocação de cestos de tela junto às grades dos bueiros – para otimizar a limpeza deles; educação do povo para o cuidado com o ambiente – incluindo o descarte correto de materiais; parceria com empresas de reciclagem que troquem materiais recicláveis por tíquetes – o que não oneraria mão-de-obra para a Prefeitura; divulgação de pontos de descarte de entulhos para a zona urbana, bem como de pontos de descarte de lixo da zona rural, e coleta frequente desse lixo para que não se acumule; local para descarte sistemático de todo e qualquer material reciclável (por exemplo, em todas as praças da cidade) – já separado por todas as famílias e por todo o comércio e indústria; reciclagem de 100% desse material; e encaminhamento para o aterro sanitário exclusivamente do que for lixo – ou seja, aquilo que não pode ser reutilizado nem reciclado.

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