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Novo mar de lama

Após o desastre do rompimento da barragem em Mariana, constituiu-se, na Câmara de Deputados, uma CPI

Mário Salvador
Publicado em 04/02/2019 às 21:05Atualizado em 17/12/2022 às 17:54
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Após o desastre do rompimento da barragem em Mariana, constituiu-se, na Câmara de Deputados, uma CPI para investigar a segurança nas barragens. Seu relator apresentou medidas austeras capazes de resolver, prevenir ou minimizar os problemas com barragens. O que aconteceu a seguir foi surpreendente: o relator foi destituído por maioria de votos. E um deputado que recebeu doação da Vale na campanha eleitoral defendeu o arquivamento da papelada. Tudo isso impediu que a tragédia de Brumadinho fosse evitada.

Enquanto há três anos, no desastre de Mariana, de responsabilidade da Samarco, houve dezenove mortos, no de Brumadinho, de responsabilidade da Vale, há, dentre mortos e desaparecidos, 375 pessoas. E ainda não se sabe por que a sirene que alertaria moradores em caso de rompimento da barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho, não soou naquele 25 de janeiro.

Conforme previsto no código que rege a matéria sobre barragens, a Vale deverá pagar a irrisória multa de R$3.293,90 – valor máximo permitido por lei. Após o desastre, a Vale mostrou que seus certificados estavam em dia. Mas os cinco engenheiros que atestaram a estabilidade da barragem estão presos preventivamente.

A esperança de familiares e amigos daqueles que ainda estão desaparecidos no atoleiro de lama e rejeitos tóxicos é que todos os corpos sejam encontrados. Militares brasileiros e israelenses, cães farejadores e voluntários trabalham no difícil resgate de corpos. E psicólogos dão suporte às equipes de resgate e também aos familiares das vítimas.

Aos sobreviventes restam as perdas de familiares, perdas materiais, estresse pós-traumático, problemas no organismo, danos ao ambiente em que vivem, incluindo terra, rios, fauna e flora, uma cidade devastada e uma coleção de incertezas. 

Espera-se que as causas deste acidente sejam investigadas; que responsáveis pela tragédia sejam punidos; que as famílias sejam indenizadas; que se implementem, com urgência, protocolos de risco, formas de aproveitamento de rejeitos, bem como regras mais rígidas para a construção, segurança e fiscalização de barragens. E espera-se, principalmente, que a lição deixada pelos dois desastres tenha sido finalmente aprendida.

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