ARTICULISTAS

Rosa e Azul

É do artista impressionista francês Pierre-Auguste Renoir o famoso óleo sobre tela Rosa e Azul

Mário Salvador
Publicado em 07/01/2019 às 18:18Atualizado em 17/12/2022 às 17:03
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É do artista impressionista francês Pierre-Auguste Renoir o famoso óleo sobre tela Rosa e Azul, que retrata as filhas do banqueiro judeu Louis Raphael Cahen d’Anvers: as irmãs Alice (a mais nova) e Elisabeth (a mais velha), vestidas, respectivamente, de rosa e azul. Rosa e azul, todos sabemos, são cores que podem ser usadas indiferentemente por meninas. (O quadro mostra que essa ideia já é antiga.) E, também, por meninos. Mas será que alguém pensa diferente disso?

A advogada, educadora e pastora evangélica Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, discorreu, em seu longo discurso de posse, sobre problemas que enfrentará em sua portentosa pasta e falou sobre sua vida pessoal e profissional, toda pontuada de fatos que impressionam. Finda a cerimônia em que ocorreu o discurso, e já em outro ambiente, disse que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, numa metáfora que faz referência à ideologia de gênero, que é considerada pelos apoiadores de Bolsonaro como ideologia de esquerda.

Embora o discurso de cerca de vinte minutos tenha sido notável, a mídia pouco falou sobre ele. Como era de se esperar, só fez alusão àquela frase dita nos corredores. Ciente da dificuldade que a ideologia de esquerda tem de entender metáforas, Damares se deu ao trabalho de explicar que a frase não deve ser entendida ao pé da letra; a metáfora foi empregada de propósito para valorizar a família.

Dentre aqueles que tiveram essa dificuldade de compreensão estão artistas contrários à eleição de Bolsonaro, como Caetano Veloso, Angélica e seu esposo, Luciano Hulk (que por pouco não se tornou um rival de Bolsonaro na disputa à Presidência). Eles se vestiram com cores que, em tese, contrariam o que Damares disse, sugerindo que a ministra falou bobagem. (Alguém pode explicar a eles o que é uma metáfora, por favor?) Se queriam levar a frase ao pé da letra, deveriam ter pensado que eles não são mais meninos nem menina. São adultos. Às vezes, até um tanto infantis, mas são adultos.

Cores têm, sim, sua simbologia. Ninguém criticou as ideias do Outubro Rosa e Novembro Azul, nem todas as outras ideias que hoje acompanham os nomes dos meses do ano, todos relacionados às cores das inteligentes campanhas que representam. E, junto a esses nomes de meses, as cores rosa e azul são símbolos do sexo feminino e do sexo masculino, não interessando a opção sexual de qualquer pessoa, nesse caso. Além de os nomes dessas campanhas não terem sido criticados negativamente, são, ao contrário, metáforas bastante lembradas e divulgadas.

Não temos dúvidas de que os ministros e o próprio Bolsonaro dão seus escorregões. Eles próprios percebem isso, tanto que logo alguém da cúpula procura corrigir-lhes os erros. O que nos deixa indignados é que é típico da mídia comprada apegar-se às pequenas coisas em detrimento do que realmente importa – a essência. É preciso ser muito ético e inteligente para não se deixar levar por essa influência negativa. Entre as redes sociais e a mídia – conforme ela –, às vezes a primeira tem sido mais verdadeira, sábia, honesta e proveitosa.

Manifestações da mídia e das redes sociais deixam claro que é necessário cuidado com o que se fala ou se escreve, já considerando que nem todos serão capazes de entender o que ouvem ou leem. Porém, convenhamos, errar ao fazer algum pronunciamento não é novidade. Por exemplo, em telejornais, muitas vezes, fazem-se retificações e pedidos de desculpas por erros. E os erros frequentes e hilários da ex-presidente Dilma são sempre relembrados nas redes sociais.

Na vida particular, todos nós cometemos erros e, conforme manda a boa educação, pedimos desculpas por isso. Todo ser humano está fadado a deslizes. Mas não foi o caso de Damares. Quem conhece o currículo dessa mulher excepcional não tem dúvida da integridade do caráter dela e do seu objetivo de vida.

Felizmente, o governo sabe que críticas negativas apontadas pela mídia são bem-vindas e servem para alertar sobre a necessidade de se fazerem reparos. (Já dizia isso a Família Real, quando veio para o Brasil, em relação às notícias de jornais da época.) E essa necessidade pode surgir em relação àquilo que se fala, escreve ou faz. Uma tomada de decisão errada, por exemplo, pode afetar negativamente a vida de todos os brasileiros. Quando correções são necessárias, acreditamos, serão feitas. 

Esperamos ações de sucesso do governo, que beneficiem a nação e a tirem deste atoleiro em que foi deliberadamente afundada. Vale corrigir qualquer rota errada. Os problemas herdados de governos (ou desgovernos) anteriores são muitos, mesmo assim nenhum desses dirigentes pediu desculpas aos brasileiros. Rosa e azul não são nenhum problema perto de tudo o que ainda seremos obrigados a passar por conta da herança deixada por dirigentes corruptos. Bolsonaro comanda o barco Brasil, em que estamos todos nós, brasileiros. Desejamos seguir a melhor rota, fazer boa viagem e um dia nos ancorar, sãos e salvos, em porto seguro.

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