ARTICULISTAS

No Rio de Janeiro o Rock se misturou ao lixo

Quem acompanha a história da música e, de fato, faz uma análise de suas raízes verdadeiras

Valter Machado da Fonseca
Publicado em 13/10/2011 às 13:41Atualizado em 19/12/2022 às 21:53
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Quem acompanha a história da música e, de fato, faz uma análise de suas raízes verdadeiras, se decepcionou com o que viu no Rock in Rio deste ano de 2011. Da proposta original idealizada pelo empresário Roberto Medina, muito pouco se viu. Aliás, esta edição não lembra nem de longe a edição de 1985. O que se viu no evento deste ano foi um amontoado de bandas que não tinham o que dizer, para um público no qual a grande maioria não sabia nem o que é a proposta original do Rock and Roll. Isto ficou bem visível quando uma emissora de TV entrevistou o público sobre o que foi o Festival de Woodstock e menos de 50% souberam responder.

De fato, o que se viu no Rock in Rio deste ano foi um total vazio de produção musical, tanto no que se refere às canções quanto aos arranjos e melodias. Na verdade, não é de hoje que o Rock and Roll vem perdendo sua criatividade e originalidade. Os representantes do gênero musical que nasceu dos movimentos de protestos nada disseram neste festival, a não ser reproduzir chavões arcaicos e moldados como subprodutos do consumismo norte-americano e/ou europeu. Dava pena ver a total falta de criatividade das bandas que se apresentaram este ano. Parece que o Rock and Roll vem acompanhando o processo de aculturação mundial, fruto do projeto capitalista da denominada “globalização econômica”. O festival cumpriu uma agenda burocrática que serviu mais para reafirmar a proposta consumista das grandes gravadoras e emissoras de TV, do que reafirmar suas raízes de protesto das grandes questões sociais e culturais que o rock tinha como projeto original.

O que, de fato, nos fez lembrar de que o evento já teve sua importância um dia, foi a presença [quase isolada] do grande Stevie Wonder, que sempre honrou as tradições e raízes da boa música. Além dele, o que acabou salvando o festival de um desastre total foram as apresentações das bandas brasileiras, com destaque para o Skank e os Titãs. O evento foi encerrado pela apresentação sonolenta e monótona do Guns N’Roses, que não lembrou nem de longe a trajetória de grandes sucessos do grupo. No mais, o evento mais se pareceu com uma grande passarela montada para o desfile de atores, apresentadores de TV e personalidades do que, efetivamente, com um evento musical de Rock And Roll.

Por fim, o evento nos chama atenção para o saudosismo dos grandes festivais de rock, que nos brindaram com músicos fenomenais como Jimi Hendrix, Rolling Stones, Pink Floyd, Led Zeppelin e Janis Joplin. Infelizmente, nesta edição do Rock in Rio, a direção artística do espetáculo se lembrou de todos os detalhes para realizar um grande show de Rock and Roll, esquecendo-se apenas, de convidar para o festival as verdadeiras bandas representantes deste importante gênero musical. Aí, fica a interrogaçã será que o fracasso do evento foi uma mera questão de falta de planejamento e organização ou será que, de fato, estamos vivendo um processo de vazio cultural, que consegue apagar as luzes de um dos mais importantes gêneros musicais de todos os tempos – o Rock and Roll? Parece que a proposta musical verdadeira, aquela que liga o rock às suas raízes, foi desprezada, jogada no lixo descartável juntamente com copos e embalagens plásticas, consumidas no evento por um público que sequer sabia o que estava ouvind se era música, ruído, histeria ou poluição sonora. Esperamos que o próximo evento seja eficiente para pelo menos “catar os cacos” do grande desastre deste ano, ou então, é melhor por fim a este projeto praticamente falido, que substitui a boa música por ruídos, gritos, gemidos e histeria.

(*) Escritor, Geógrafo, Mestre e doutorando em Educação pela UFU. Docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE)

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