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A Complexidade de Edgar Morin e o Materialismo Histórico de Marx

Hoje, quero falar um pouco de um dos grandes filósofos do século XXI

Valter Machado da Fonseca
Publicado em 14/08/2011 às 14:40Atualizado em 19/12/2022 às 22:50
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Hoje, quero falar um pouco de um dos grandes filósofos do século XXI: Edgar Morin. Francês, apaixonado por Paris, ele reside na própria cidade-luz. Morin construiu, ainda no século XX, as bases do “Pensamento Complexo” ou “Teoria da Complexidade” [como prefere a maioria de pesquisadores e pensadores da modernidade], a qual foi concluída neste limiar de século XXI.

O Pensamento Complexo foi fruto de quase toda uma vida totalmente dedicada à pesquisa do pensador e filósofo francês. Esta teoria veio revolucionar e mudar os dogmas equivocadamente construídos sobre as “verdades científicas” e as formas de se fazer ciência. Embora, a teoria do Pensamento Complexo possua como princípios as bases de uma teoria aparentemente inversa aos princípios defendidos por Karl Marx, na minha singela concepção acerca da ciência, ela não é contraditória com as bases do materialismo científico ou dialético. Vou mostrar o porquê.  

Morin, diferentemente de Marx, que toma por base a compreensão e análise do todo social, do contexto da totalidade, como uma necessidade para a compreensão das partes, inicia sua fundamentação a partir da análise das partes, das particularidades para a compreensão do todo [segundo vários estudiosos]. Em primeiro lugar, isto, para mim, não está claro, nem evidente. Em minha concepção, o epicentro nevrálgico, o eixo principal da Teoria da Complexidade de Edgar Morin se situa sobre a necessidade do entendimento da relação todo/partes e partes/todo, o que, a meu ver não contraria em nada os princípios de Karl Marx. Portanto, ele não privilegia as partes em detrimento do todo.

Muito ao contrário do que defende parcela de pesquisadores, vejo no Pensamento Complexo de Morin, uma âncora, uma ferramenta importantíssima que pode auxiliar [e muito] na compreensão dos fundamentos de Marx, que têm por base a visão da totalidade. Considero que os estudos de Morin podem complementar os postulados de Marx, pois o entendimento do modo como se desenvolve e se processa essa relação todo/partes e partes/todo só vem reforçar a apreensão da totalidade defendida pelos princípios marxistas. Porém, considero infrutífero se ater a esta pseudopolêmica. O ponto mais importante na obra de Edgar Morin situa-se exatamente em sua desconstrução das verdades e dogmas estabelecidos pela ciência, em especial pelas ciências naturais. O ponto mais significativo de sua obra está na afirmação de que a ciência, muitas vezes, navega sobre zonas de ilusão e de incertezas e que não devemos nos apoiar nas supostas verdades científicas, mas, ao contrário, é preciso compreender e analisar estas zonas de incertezas no sentido de sua superação.

Morin destaca, ou seja, coloca o acento exatamente sobre a necessidade de exploração das zonas de incertezas do conhecimento. Esta visão, no meu entendimento, não contraditória com os fundamentos de Marx, é fundamental para a compreensão da totalidade da contextualização dos aspectos históricos e sociais, fundamentais para a compreensão do movimento não linear, dialético em toda sua essência e imprescindível para a compreensão do movimento constante das forças que movem a sociedade de classes, tal qual defendida por Karl Marx na “Introdução à Crítica da Economia Política”. Além disso, esta abordagem de Morin sobre as incertezas das ciências é um ponto extremamente forte para a superação da visão positivista/cartesiana de ciência. Assim, o Pensamento Complexo ou a Teoria da Complexidade de Edgar Morin é um instrumento fundamental que pode auxiliar, sobremaneira, na compreensão e complementação dos fundamentos da obra marxiana, além de ser uma âncora fundamental para se estabelecer zonas de fraturas e de rupturas com a fragmentação dos objetos de estudo das ciências, base sobre a qual se edifica o pensamento de Descartes e a ciência positiva de Auguste Comte.

(*) Escritor, geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre e doutorando em Educação também pela UFU, professor da Universidade de Uberaba (Uniube) [email protected]

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