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Questão de estilo

Optou por ser assim, gostava de ser assim, descobriu que a sua natureza o moldou

Gilberto Caixeta
Publicado em 04/11/2014 às 19:49Atualizado em 17/12/2022 às 02:54
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Optou por ser assim, gostava de ser assim, descobriu que a sua natureza o moldou para ser assim. Conformou-se. Estava bem no estilo, na obtenção de vantagens pessoais. Nada era sofrível, ao contrário, prazeroso. Não havia dores morais no fazer, nem remorsos ou valores a serem relativizados. É talentoso demais na arte de servir e obter vantagens pessoais em nome de um conjunto moral inexistente. Uma coisa era os seus discursos, outra, a regra de conduta. Sua visão de mundo compartilhada na solidariedade, na conciliação entre simplicidade e humildade não se efetiva na prática. Era só para impressionar. O conflito, a intriga e o personalismo são mais interessantes à sua sobrevivência, portanto são cultivados com regularidade. Sabia também que a adulação permitiria se incrustar na órbita da simbiose facilitadora. Hábil no relacionar-se com os vencidos e subjugar os vencedores pela detração, soube conduzir em seu benefício as benesses prometidas. Dissimulado, manipulador das versões sobre os fatos políticos, utiliza-se do tempo verbal e de seu tempo para consolidar os seus propósitos em detrimento dos outros. Não se deprecia por nada e para ninguém.  A sua vaidade não é translucidez estética, exige-se de outrem. Com os vencedores que detêm o mando é serviçal o tempo todo. Não há dores morais na transitoriedade de uma margem a outra, o que importa é estar ao lado de quem detém o comando. Servir na plenitude a quem se serve. Participar de grupos idealizadores do progresso, influenciar politicamente, assumir comandos, é o que importa na diferenciação do comando. Aos vencidos, a desnecessidade do cumprimentar. É um sansão ao elogiar os poderosos, um leão no combate daqueles que tentam coabitar o mesmo espaço que se julga unicamente seu. Serve, porque é servido. Sua flora moral se agarra aos muros de sua personalidade e cresce, sobe como trepadeira atrevida, despudorada, a sufocar. É um contumaz perseguidor daqueles que não atrapalham ou nada desconstroem, mas que são sobreviventes em vida de pouco trabalho e de ausência de reconhecimento dos talentos. Por ser vaidoso, não divide espaço entre os que podem colaborar voluntariamente.  A sua luz, porque crê que a tem, é resplandecente. As conquistas são contabilizadas unicamente para ele. Atende aos pedidos de seus senhores com a mesma presteza de um garçom que atende ao cliente preferencial. De fala mansa e baixa, sorriso esticado no rosto, os seus olhos brilham de encantamento a quem tem a governança. A transubstanciação aparece descaradamente às avessas com os vencidos. Essa personagem não sofre de patologias, ou tem dupla personalidade ou sofre  alucinações interpretativas de suas personagens imaginárias. Nada disto. É seu estilo de vida, é opção consciente de querer ser assim, por gostar e sentir prazer nesta forma de viver.

  

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