ARTICULISTAS

Cachorros e fezes

Quando ando pelas ruas de bairro em BH observo-os em passeio. Alguns são cabeludos

Gilberto Caixeta
Publicado em 28/10/2014 às 20:29Atualizado em 17/12/2022 às 03:00
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Quando ando pelas ruas de bairro em BH observo-os em passeio. Alguns são cabeludos, outros nem tanto. Uns usam rabinho, outros estão raspados. Existem os barrigudos, os malhados, baixos e altos. Há os magros e os baixinhos, a colorirem as ruas com os seus tênis e roupas. Houve por vontade de meus olhos a serem vistos em juízo estético. São pessoas bonitas e feias. Mulheres e homens. Algumas com roupas de caminhadas, outras descompromissadas com a apresentação. São jovens, adultos e velhas, malhados, descuidados, solteiros, acasalados, solitários, alegres, infelizes. Cada um do seu jeito colorido de ser. Em cada um os olhares de apreço, encantamento, reprovação. Passeiam com os seus cachorros. Uns são pequenos, outros nem tanto. Todos em suas coleiras. Aqueles que requerem estão em focinheira. Passeiam com o seu animal como se fosse a extensão afetiva e o seu complemento. São cachorros pequenos, grandes, cuidados, lambidos, penteados, escovados, lavados, enxugados... Uma diversidade de pessoas e de cachorros. Mas, o que há em comum entre eles? Além de serem complementos afetivos, os seus donos têm educação comunitária. Todos andam com saquinhos plásticos a mão para recolher as fezes de seus animais. Ninguém sai às ruas, com os seus cachorros, se não estiverem portando aqueles saquinhos plásticos. Estão ali para que os seus cachorros urinem, defequem, estiquem os músculos. Exibi-los à sociedade é a expressão de carinho de cuidador, não importa por que os têm e sim expressar o que têm. Quando seus animais têm necessidade fisiológica, param e aguardam pacientemente que eles desopilem o intestino ali na calçada. Ficam os bípedes a olhá-los com o rabo de olho enquanto os seus quadrúpedes esvaziem ali mesmo o intestino. Ao término, recolhem as fezes, com aquele saquinho plástico, que estava a sua mão e jogam-nas recolhidas na primeira lixeira. Ninguém atola o pé num monte de bosta deixada por um cachorro acompanhado de seu dono. Defender os animais, amenizar as suas dores e tê-los como companheiros é algo saudável. O insuportável é pensar que o dono de um cachorro não tem compromisso com a coletividade. Ninguém, que seja dono de um cachorro, deixa de recolher as fezes de seu animal quando ele está em casa. Por que, então, ao saírem às ruas, deixem para terceiro aquilo que é de responsabilidade sua? Não assisto ao mesmo cuidado em nossa cidade. Acompanho os mais variados debates a cerca de animais, e nenhum de responsabilidade de seus donos. O passeio, a rua são bens comuns, lugar coletivo que todos ocupam e devem ter cuidado para com ela. Lavar o passeio em ato explícito de desperdício de água é tão condenável quanto ter um cachorro e não se responsabilizar por ele. Por favor, ao sair com o seu animalzinho, recolha as fezes que ele deixar na calçada.

(*) Professor

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