ARTICULISTAS

A renegociação da dívida bancária será estimulada pelo governo

O Governo Federal realmente decidiu levar a sério

Marcelo Guaritá Bento
Publicado em 12/07/2012 às 20:23Atualizado em 17/12/2022 às 09:04
Compartilhar

O Governo Federal realmente decidiu levar a sério a questão do crédito no Brasil. Dentre as diversas medidas de facilitação de funding, uma novidade deverá fazer grande diferença.

Muitas instituições financeiras decidem, a partir de certo ponto da cobrança, simplesmente abandonar a mesa de negociação com o tomador de crédito.

O banco providencia as medidas para a cobrança, mas após as tentativas obrigatórias por Lei, especialmente contra aqueles que não têm patrimônio líquido ou nos casos sem garantia, lança o empréstimo como perda no balanço e deduz o montante do imposto de renda e da contribuição social do lucro líquido, IRPJ e CSLL.

Nesses casos, o devedor fica com o nome sujo, sai do mercado de crédito e a instituição financeira perde o interesse em receber, uma vez que usa a perda para reduzir os tributos sobre a sua operação. Isso ocorre com frequência.

O motivo principal é que o cliente geralmente quer pagar parceladamente e quando o credor reverte a perda na contabilidade para receber o crédito, admitindo a receita, paga os tributos de uma só vez, mas só recebe o valor em prestações a perder de vista.

É uma das implicações do regime de apuração pelo lucro real, obrigatório aos bancos.

O Governo visualizou o problema e decidiu flexibilizar. Vai permitir que as instituições financeiras paguem os tributos de acordo com o recebimento dos valores, antes perdidos.

O Ministério da Fazenda fez um estudo e se mostrou sensível a questão. Acredita que as instituições financeiras terão novo incentivo para renegociar as dívidas porque será possibilitado o parcelamento do pagamento de Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) sobre a receita recebida na operação.

Ademais, a diferença nos cofres públicos é muito pequena, ou quase nenhuma, uma vez que a tributação será, de toda forma, recebida, a mudança é que vai ficar diferida no tempo.

Além disso, mais receita será tributada, e mais pagamento ao Tesouro Nacional é sempre bem visto aos olhos arrecadatórios do Governo.

A Lei 12.431, de junho de 2011, já adotou esse mecanismo de recolhimento de tributos para renegociação de dívidas bancárias até o teto de R$ 30 mil, somente com pessoas físicas, e para operações de financiamento rural.

A mudança na lei, segundo o Ministro da Fazenda,  deverá ser incluída na Medida Provisória 563, que trata do Plano Brasil Maior, que já tramita no Congresso, mediante Emenda, o que torna o procedimento de aprovação bem mais rápido.

É uma medida inteligente. Ajuda o cidadão a pagar suas contas, ajuda o mesmo a voltar ao mercado e a limpar seu nome, dá estímulo à negociação, ajuda a desafogar a justiça e ainda dá força a economia.

Ao tornar os clientes novamente adimplentes, eles poderão tomar novo crédito, voltando ao mercado financeiro. Ao estimular o consumo, o governo tenta evitar que investimentos anunciados sejam adiados ou cancelados. Bom para todos.

É tão raro o Governo atenuar as complexas regras de tributação no País, que quando planeja fazê-lo, vale a notícia.

(*) Advogado em São Paulo, Bacharel e Mestre em Direito do Estado pela PUC/SP, membro da ABDT – Academia Brasileira de Direito Tributário, Membro do Departamento Jurídico da SRB – Sociedade Rural Brasileira e sócio do escritório Peluso, Stupp e Guarita. Advogados

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por