ARTICULISTAS

Laços de Família

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 31/12/2018 às 06:41Atualizado em 17/12/2022 às 16:51
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Nesta hora da tarde, quando a casa repousa em total silêncio, senti-me inspirada a refletir sobre o significado do Natal. Sem dúvida, o Natal é uma data que deve ser compartilhada com a família. Para os que pensam que todos os anos tudo se repete de maneira sempre igual, sinto discordar desse ponto de vista. Nunca podemos reviver emoções passadas, pois cada um de nós está vivenciando um novo momento em nossas vidas. Um ano mais amadurecidos, um ano mais sofridos e, portanto, mais conscientes de nossas fragilidades.

Ao longo dos anos, vamos nos despedindo de algumas pessoas e recebendo outras, que chegam para nos lembrar que a vida é um fluxo contínuo, num eterno ir e vir. A lembrança dos entes queridos que se foram é inevitável, assim como a alegria de segurar nos braços os novos rebentos, que enchem a casa de uma energia vital que nos revitaliza e pacifica.

É tão bom cultivar os laços familiares, partilhar a ceia preparada por várias mãos que somaram suas forças no milagre do amor, fruto incondicional do sentido de fraternidade que permeia a comemoração do nascimento do Menino Jesus.

Valeu a pena nos ausentarmos por uma semana! É indispensável para o núcleo familiar estar unido nessa data tão especial. Os novos integrantes, sejam eles parentes afins ou “agregados”, precisam estabelecer vínculos fraternos com as gerações anteriores. A nossa família congrega pessoas que vivem em diversos estados e cidades, ou mesmo em bairros afastados da grande São Paulo, separadas não só pela distância física, mas também pelo ritmo frenético do trabalho e dos afazeres domésticos do cotidiano de cada um. É como se nos programássemos para uma pausa necessária e deixássemos os excessos do lado de fora de nossas vidas, para juntos recuperarmos as forças, tendo em vista o ano novo que se aproxima.

A relação familiar ocorre entre personalidades diferentes ou até antagônicas, predeterminadas a viverem juntas. Justamente por isso a família é, na realidade, um “microcosmo”, onde exercitamos a arte de conviver com os opostos. Ela nos torna plural e nos educa para a vida em sociedade.

Encontramos, ao chegar, uma festa natalina aconchegante e amorosa. Sons de risos, de várias vozes superpostas vindas de ambientes conjugados, de brindes efusivos misturados ao choro de bebês. Uma balbúrdia adorável!

Depois de tudo, após as despedidas, sobrevém uma grande sensação de paz. O poeta João Doederlein, em momento de rara inspiração, deu novos significados para a palavra abraç “ação de encostar um coração no outro; é sorrir com os braços”. Sei apenas que incontáveis abraços foram dados! A memória do encontro permanece em nós e se estenderá por muito tempo ainda! Os momentos de cumplicidade sedimentaram ainda mais nossos vínculos afetivos. Seguramos com amor os singelos presentes que trocamos e que traduzem o sentimento de generosidade que se sobrepõe a tudo e nos envolve plenamente no Natal.

A felicidade exige paciência: é soma, acréscimo, conquista e aperfeiçoamento. O estilista Ronaldo Fraga foi muito feliz ao afirmar: “Acredito na felicidade que tem a justa medida da tristeza, a justa medida da saudade, a justa medida da euforia”. A felicidade não é pensar naquilo que não conseguimos realizar, mas redescobrirmos o valor do que conquistamos. Nas sábias palavras do escritor Fabrício Carpinejar, “a felicidade é um doce intervalo para sairmos de uma tristeza e encararmos a próxima”, que inevitavelmente virá, uma vez que a felicidade é cíclica.

Retornei para Uberaba mais leve. Com vontade de iniciar 2019 com passos firmes rumo aos meus objetivos. O novo ano ainda não pisca no horizonte e já anuncia com ele novos tempos e renovadas esperanças.

Encerro essas reflexões com versos de Adélia Prad

“Continuará a vida repetitiva.

Novíssima continuará a vida.

Só vida. Nua. Vida...”

(*) Olga Maria Frange de Oliveira

Pianista, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba, ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba 

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