ARTICULISTAS

Saudades de Minas Gerais

Ao vasculhar as gavetas de uma cômoda, encontrei uma caixa de fotografias. Curiosa, comecei a manuseá-las

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 07/11/2018 às 18:46Atualizado em 17/12/2022 às 15:15
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Ao vasculhar as gavetas de uma cômoda, encontrei uma caixa de fotografias. Curiosa, comecei a manuseá-las e, entre elas, encontrei fotos de uma viagem que fiz a Diamantina em 2005. As lembranças logo me afloraram à mente e revivi a visita que fiz à casa onde nasceu Juscelino Kubitschek de Oliveira, hoje transformada em Museu. Era uma casa branca em estilo colonial, com portas e janelas azuis, situada no meio de uma ladeira íngreme. À primeira vista me pareceu uma casa humilde, singela, com poucos cômodos, porém acolhedora. Chamaram minha atenção seu quarto, de uma simplicidade franciscana; e a cozinha, onde havia um pequeno fogão a lenha com bule e xícaras de ágata. Fechando os olhos, pude sentir o aroma do café ao gosto mineiro, mais ralo e bem docinho, servido com pão de queijo bem quentinho. Nas paredes, fotos de Juscelino em momentos distintos de sua fulgurante carreira política. 

Nesse dia eu reencontrei Maristela, filha de Juscelino, que conheci quando minha família e eu morávamos em Belo Horizonte, na Pampulha, no início dos anos 60. Éramos vizinhos do Dr. Julio Soares e sua esposa, D. Naná, irmã de Juscelino, que moravam na esquina da Alameda do Ipê Amarelo com a Alameda dos Coqueiros. Márcia e Maristela, filhas de Juscelino, eram um pouco mais velhas, mas eu adorava suas histórias, pois elas já frequentavam bailes e festas na sociedade belo-horizontina. Eu sempre dava um pulinho lá quando elas iam visitar os tios. Ficávamos numa varanda cercada por eucaliptos, de onde se admirava um vasto jardim com um viveiro de pássaros exóticos, que era a paixão de Juscelino. As duas irmãs eram jovens, alegres e adoráveis.

Depois da morte do ex-presidente, a família do homem que mudou o Brasil com seu lema “50 anos em 5” levou uma vida de classe média como outra família qualquer. Nunca houve fausto ou gastos desenfreados. E pensar que ele foi prefeito, governador e presidente da República!

Maristela, que atualmente reside no Rio de Janeiro, esteve há alguns anos em Uberaba e aproveitou para tomar um lanche em minha casa. Devolveu-me um pedaço da minha infância e o orgulho de ter partilhado alguns momentos de intimidade com essa família tão especial.

Ah! Que saudade do tempo que o político mineiro era o “fiel da balança”. A sagacidade da raposa era atributo dos nossos grandes políticos. O mineiro falava pouco e pesava suas palavras. Seus eleitores eram “politizados”, embora o grau de escolaridade da maioria fosse baixíssimo. Meu pai e meus tios, salvo honrosa exceção, não concluíram o curso primário. No entanto, recebi de meu saudoso pai, Eudóxio de Oliveira, verdadeiras aulas de política, que me tornaram uma eleitora consciente.

O acordo firmado entre os paulistas e os mineiros na “política do café com leite”, que permeou a Velha República (1889/1930), demonstrou a importância dos dois Estados na condução dos destinos do país. E, quando pisaram no “calo” dos mineiros, e São Paulo quis passar por cima do pacto sacramentado por tantos anos, Minas virou o jogo, aliou-se a Getúlio Vargas e expulsou o usurpador do cargo. Bingo para Minas!

A antológica marcha das “Diretas já”, tendo à frente Tancredo Neves, lavou a alma dos mineiros. Finalmente, assistimos à vitória apoteótica de Tancredo, cuja trágica morte emocionou o país “do Oiapoque ao Chuí”. Esta é a saga das Minas Gerais, um estado repleto de episódios inesquecíveis, que nós mineiros estamos passando para as futuras gerações. O próprio Tancredo afirmou, da sacada do Palácio da Liberdade, que “seria preciso ter no peito um coração de ferro para suportar a emoção que o tomava por inteiro”.

Mas a realidade me remete à Minas de hoje, que foi transformada num estado depauperado e politicamente à margem dos destinos do país, nas mãos de governantes da estirpe de Fernando Pimentel e sua corja. Partícipe das tramoias do PT, Dilma, que se radicou por longos anos no Rio Grande do Sul, retornou “escorraçada” para seu estado de origem, na certeza de ser apoiada pelos mineiros. Que decepção!!! Mudei eu ou mudaram os mineiros?

Que tal refletir sobre o comentário de uma leitora do jornal “O Estado de São Paulo”? “Gleisi Hoffmann afirma que, da cadeia, Lula sabe de tudo o que se passa aqui fora e coordena a campanha eleitoral do PT. Curioso, quando era presidente ele nunca sabia de nada”. Ô dó!!! 

(*) Pianista, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba, e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba

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