ARTICULISTAS

A ditadura do light

A propaganda é uma arte. Uma arte e uma ciência. Arte de convencer. De seduzir. De enganar

Padre Prata
Publicado em 02/02/2019 às 11:45Atualizado em 17/12/2022 às 17:53
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A propaganda é uma arte. Uma arte e uma ciência. Arte de convencer. De seduzir.  De enganar. Saber empurrar um produto exige um espírito inventivo que não é dado a todos. Diariamente somos bombardeados por propagandas de todos os tipos. Respiramos propaganda. Umas inteligentes, chamam nossa atenção. Agradam. Até embevecem. Delas nos lembramos anos depois. Ainda estão vivas em nossa memória propagandas de vinte anos atrás. Há em certos pequenos episódios toques de genuína genialidade.

Por outro lado, há propagandas que só revelam burrice. São simplesmente ridículas, de um mau gosto de provocar engulhos. Péssimas são as propagandas que apelam para a gritaria. Tem-se a impressão de que eles acreditam que, se gritarem, irão nos convencer. Nada criativas são aquelas outras que se servem do erotismo (às vezes, até da pornografia) para vender produtos. O corpo da mulher está sendo um recurso baratamente explorado, instrumentalizado.

Todos os recursos da psicologia moderna são habilmente explorados. Freud descobriu o inconsciente como um dos fatores determinantes de nosso comportamento. O comércio viu nele um rico filão para a venda de produtos.  Ancorados pela descoberta de que todos nós somos guiados pelo nosso inconsciente (não só), criaram a propaganda subliminar. Criaram dentro de nosso psiquismo certo tipo de necessidades das quais não temos consciência. São necessidades fabricadas que nos levam a tomar decisões aparentemente livres.

Além dos recursos subliminares, há palavras chaves na propaganda. Hoje, uma delas é o termo inglês light. É uma palavra mágica. Um “abre-te, Sésamo” bem inventado. Produz milagres. Quebra resistências. Os produtores da área alimentícia, usam dela despudoradamente. Não custa nada imprimir um light no rótulo de seu produto. Ninguém vai verificar se é verdade ou não.  Não temos, no Brasil, a eficiência de um “Drugs and Foods” da fiscalização americana. Dá resultados surpreendentes. Exploram nossa ingenuidade. Acreditamos neles, estão defendendo nossa saúde. Não discutimos sobre sua veracidade. E assim vamos nos empanturrando de salsicha light,  de sal light, de ovos light, de chocolate light, de cigarros light e assim por diante. Light virou sinônimo de alimento sem colesterol. Não engordam. São saudáveis. Corremos lá e compramos. E ainda nos julgamos inteligentes. Está anunciado nas propagandas um tipo de margarina que combate o colesterol.  Tem gente que compra... 

Há poucos dias, me ofereceram um presunto light. “Pode comer sem susto. Eles eliminaram as gordurinhas”.  Eles quem?

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