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Sin perder la ternura jamás

No meu último ano de colegial, o professor (religioso) pediu-nos que dissertássemos sobre as principais virtudes

Padre Prata
Publicado em 27/10/2018 às 10:23Atualizado em 17/12/2022 às 14:54
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No meu último ano de colegial, o professor (religioso) pediu-nos que dissertássemos sobre as principais virtudes que deveriam caracterizar a vida de um bom padre. Fiz uma lista daquelas que, naquele tempo, achava realmente importantes. Em primeiro lugar, a obediência, virtude sagrada para os padrões da época. Naquele tempo, a obediência aos superiores era fundamental, porque, segundo os orientadores, “a voz do superior era a própria voz de Deus”. No internato, o toque da sineta tinha alguma coisa de sagrado. Éramos programados a sentir naquele som algo de divino. Padre santo era o padre que obedecia ao bispo, que não discutia nunca as suas ordens, mesmo quando erradas.

Além da obediência, devo ter elencado mais umas cinco ou seis, acrescentando a ternura como uma delas. O professor não gostou, escrevendo ao lado, com tinta vermelha e em bela ortografia, o seguinte: “Ternura não é virtude masculina”. Parece que, para ele, o padre deveria ser rude, grosso, sem educação e prepotente.

Com meus dezesseis anos, não possuía ainda critério suficiente para medir o tamanho daquela insensatez gravada em tinta Nanquim, vermelha.

Duas décadas mais tarde, lembrei-me daquele professor quando li, num cartaz revolucionário, uma admoestação do herói sul-americano, Che Guevara: “Es preciso endurecerse sin perder la ternura jamás.”

Seria um desastre para todos nós se o mundo fosse regido apenas por virtudes masculinas. Seria o triunfo da guerra e da violência. Aliás, hoje, nem sei se as virtudes podem ser classificadas em femininas e masculinas.

Ternura é uma força sem dureza. É o contrário da agressão, é o contrário da brutalidade, da estupidez. Posso até ir além e dizer que a agressividade é uma fraqueza. Ternura tem muito a ver com compaixão. Com tranquilidade. Com equilíbrio interior. Com paz. Como ouvir, sem ternura, os lamentos do irmão? Como dar um conselho sem ternura? Como ensinar sem ternura? Como dar uma esmola sem ternura? Não seria um insulto?

Não consigo encontrar no Evangelho gesto de maior ternura do que aquele famoso encontro de Jesus com uma adúltera: “Mulher, ninguém te condenou? Também eu não te condeno. Vai em paz e não peques mais”.

Será por que aquele meu professor ficou tão indignado? Seria um misógino enrustido? Hoje há muitos assim. Mas antigamente? 

Abolir a ternura de nossas vidas não seria abolir a presença de Deus?

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