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Soltem os bichos

Ao examinarmos relações sociais entre pessoas, povos e nações, observamos que a humanidade

José Humberto Guimarães
Publicado em 02/05/2019 às 20:56Atualizado em 17/12/2022 às 20:24
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Ao examinarmos relações sociais entre pessoas, povos e nações, observamos que a humanidade vem conseguindo, através dos tempos, progressos civilizatórios significativos, em que pese existirem ainda conflitos, guerras pontuais e segregações que expõem o lado tenebroso de quem considera-se como “homem sábio”.  Temos, infelizmente, vários procedimentos comportamentais que fazem indigno o ser humano, tanto no trato com os semelhantes quanto no envolvimento com o meio ambiente. Não há como mensurar qual deles é o mais grave, mas um destes relacionamentos, dentro do espaço ambiental, é a crueldade com que seres humanos tratam animais.

Domésticos, domesticados, silvestres ou selvagens, animais são submetidos a inúmeras modalidades de subjugação forçadas pelo homem. A apreensão, submissão e exposição vexatória são práticas ainda costumeiras de maus tratos que causam sofrimentos aos bichos. Desde um simples carreto que impõe sobrecarga física até aos rodeios e touradas que condicionam emoção humana à irritação de cavalos e bois, passando pelo adestramento de aves e cães para forçá-los ao combate, o padecimento é escarnecedor e doloroso para os bichos.

Mas um tipo de imposição restritiva de liberdade, maldoso, objeto de exposição, por incrível que pareça, no denominado mundo civilizado é, sem dúvida alguma, o aprisionamento de animais em zoológicos. É uma das mais antigas e cínicas expressões da malvadeza humana. Escudadas ostensivamente na proposição de apreciar bichos por considerá-los atraentes, sociedades materialmente desenvolvidas cometem há tempos um crime inominável destinando espaço físico e recursos financeiros para manutenção das prisões animais.  É inadmissível nestes tempos do conhecimento pleno, via obtenção de dados através da internet sobre quaisquer coisas com as quais queiramos esmiuçar, que seres humanos continuem mantendo aprisionados animais de quaisquer espécies para os deixarem expostos à disposição de plateias na sua perversa satisfação de conhecê-los, admirá-los ou estudá-los.

Não plenamente satisfeitos com este sadismo, algumas sociedades, A título de manter a preservação de espécies, promovem a reprodução de bichos para perpetuá-los no cativeiro. E vão mais além, se dão ao luxo de presentear outros zoológicos com os produtos das suas façanhas como se fossem mimos admiráveis.

Há, ainda em alguns locais, presídios animais que são verdadeiras masmorras, onde humanos depositam animais sem meios de mantê-los minimamente alimentados.

Já é passada a hora de o lado racional do homem se sobrepor à sua animalidade e por questões de ética desfazer-se de seus instintos inferiores, liberando de vez bichos inimputáveis das jaulas a que estão submetidos por imposição vaidosa de seus pretensos domadores. Sendo este ou não o caso do zoológico de Uberaba, face à polemica instalada pelo recém-denunciado fato ao Ministério Público, de maus-tratos aos indefesos bichos ali internados, é certo que existem reservas florestais legais que podem acolhê-los. Portanto, soltem os bichos! 

(*) Consultor para parcerias e arrendamentos rurais; ex-secretário de agricultura de Uberaba

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