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O agro ainda não é pop

Agro é tech, agro é pop, agro é tudo, publicidade veiculada em horário nobre pelas TVs difunde a importância

José Humberto Guimarães
Publicado em 22/01/2019 às 19:54Atualizado em 17/12/2022 às 17:32
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“Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”, publicidade veiculada em horário nobre pelas TVs difunde a importância da produção rural brasileira para o bem-estar populacional e o desenvolvimento socioeconômico do país. 

Diferentemente do que alardeia o anúncio, o agro não é pop! Em que pese já ser o Brasil o terceiro maior produtor de alimentos do mundo, suprindo necessidades internas e exportando excedentes que alimentam cerca de um bilhão de pessoas em mais de cento e cinquenta países, o setor produtivo rural ainda não mereceu da população urbana o conhecimento e atenção que faz jus.

Motivos existem e muitos, para que a agropecuária brasileira ganhe o conhecimento popular. Entre os cinco cereais mais consumidos no mundo estão o milho e a soja, culturas sobre as quais o Brasil já detém lugares destacados no cenário global. Com a soja somos o segundo colocado na produção e primeiro na exportação, superando os Estados Unidos, e já ganhamos grande expressividade universal nas safras de milho.

Temos o maior rebanho bovino comercial do planeta e também somos o maior exportador de carne bovina. Somos o sexto maior produtor de leite. Temos avicultura e suinocultura que abastecem com fartura e preços acessíveis ao mercado interno e atende grande parte do consumo mundial. Estes são alguns dos exemplos cujos notórios desempenhos já seriam suficientes para que as populações urbanas os valorizassem, já que as pessoas utilizam-se destes alimentos diariamente. Muito mais produtos do campo podem ser aqui listados e que também estão presentes na vida de cada um de nós brasileiros, como o algodão que nos propicia o vestuário, o açúcar que adoça o cafezinho, o álcool que abastece nossos carros, o látex que fornece os pneus para os veículos. No entanto, nada disso é ainda o bastante para que entendamos que somos um país agrícola e como tal devemos participar deste manancial de riquezas.

A massa populacional ainda desconhece este universo magnífico que é o campo que gera, sobretudo, alimentos e nos centros urbanos prevalece o interesse desmedido das pessoas somente para com o comércio e a indústria, esquecendo-se de que a matéria-prima existente na maioria dos municípios interioranos do país é a produção agropecuária. Daí que as instituições públicas e privadas destes locais ficam em busca e na expectativa única e exclusivamente da hipotética instalação de empresas cuja matéria-prima não é originária da agropecuária.

Desconhecem, ainda, estas lideranças, que na área rural estão módulos produtivos que também são empresas de todos os portes que produzem cereais, leite, bois, frutas, verduras e legumes e muito mais, gerando empregos e movimentando a economia. Para se ter uma ideia do porte e do nível empresarial de um profissional agricultor, um sojicultor arrendatário que é atraído para instalação de sua lavoura  em determinado município, cultivando um módulo médio de 200 hectares, investe para iniciá-la cerca de 300 mil reais e para custeá-la, anualmente, em torno de 500 mil reais para obtenção de uma receita de 800 mil reais. Acrescente a esta exploração uma cultura intermediária de milho precoce, a safrinha, que eleva a renda bruta para quase um milhão de reais. Calcule-se, agora, este módulo multiplicado por cem, duzentos, trezentos profissionais. E some-se a isto às lavouras de milho, algodão, trigo e ainda às culturas praticadas sob irrigação artificial. Imaginem o impacto positivo desta produção na economia como um todo, movimentando o comércio e fornecendo matéria-prima para indústrias.

O agro, sim, é tech, pois sem a prática de procedimentos científicos que implementam a eficiência produtiva dos empreendimentos não se conseguiria sua manutenção e crescimento. Engana-se quem pensa que a agricultura é feita de forma extrativa, aproveitando alguma fertilidade natural do solo.

Por fim, o agro pode e deve ser pop, e realmente é tudo! Basta que nos imaginemos sem produtos para nos alimentarmos e, na atualidade, sem álcool para enchermos o tanque dos veículos. E mais, sem vinho para celebrarmos a vida neste prodigioso país que o Brasil. 

José Humberto Guimarães é Consultor para Arrendamentos e Parcerias Rurais; ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba

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