ARTICULISTAS

Dialética da solidão carente

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 11/03/2019 às 22:43Atualizado em 17/12/2022 às 18:53
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Carência e solidão são condições e sentimentos distintos, muito embora confundidos como semelhantes. Todo mundo é carente em certa medida e a frustração, que é antípoda do êxito, promove a associação carência e solidão. É nesse momento que ocorre a tristeza, que é atribuída ao fato de se estar só e, portanto, carente. Esse frágil conceito induz a entendimento superficial de elevado grau de equívoco na interpretação das reações de carência e na convivência com a solidão.   A felicidade ou sensação de bem-estar não implica em companhias ou falta das mesmas, está na compreensão e aceitação das vicissitudes da vida de cada um. Aceitação não significa passividade, ao contrário, é a avaliação sensata e justa de si mesmo diante do que se objetiva, ou seja, solidão e carência não são territoriais nem geográficas, são intrínsecas e inerentes a todo ser humano. E ambas são relativas. Há o carente repleto de tudo e o solitário na multidão. O que conta é a imaginação de cada um, a arte de ser livre.   O que não é para todos. Para muitos solidão e carência os tornam insuportáveis aos outros e a si mesmos. E não há pior solidão que a carência intelectual. Ela priva e limita com asas de avestruz. O exposto acima serve aos que sempre tiveram e têm oportunidades e acesso aos meios minimamente suficientes para se ter condições de análise e interpretação. Quanto aos que as oportunidades e acesso não os alcançam, esses sim são carentes e solitários concretos, cuja loteria biológica os exclui dessas abstrações.   Precisam de todo seu tempo para cuidar de sobreviver. Já os afortunados insolentes deveriam ser tarifados pelo grau de carência intelectual voluntária e atrevida. Quem sabe as carências seriam atenuadas, permitindo a promoção de carentes de oportunidades acessar os meios que os libertem da solidão do desconhecimento e da ignorância involuntária e imposta pela exclusão? Com essas posições aqui escaladas de ocupação de espaço social, fica pretensamente a intenção de relativizar carência, solidão, frustração e êxito.   É suficientemente simples compreender quando se está do lado bom da relatividade que, por si só, carência e solidão são subjetividades. Da outra margem, carência é a realidade e solidão é destino. E não há justiça divina que supra essa carência solitária. A justiça tem de vir objetivamente dos homens do lado subjetivo. Não há nada mais dialético que carência e solidão.  

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