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O merecer

Porque o conheço, não o mereço. Simples e claro como as vogais. Ofereço-lhe tantos argumentos

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 05/11/2018 às 21:03Atualizado em 17/12/2022 às 15:09
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Porque o conheço, não o mereço. Simples e claro como as vogais. Ofereço-lhe tantos argumentos quantos necessários para dizer-lhe que não o mereço. Não se sinta elevado até entender, de fato, o que falo. Merecer a si mesmo é o primeiro passo para obter merecimento alheio. Se é convencido de que se merece, já admite que o que é pode ser suficiente para ser merecido? Mas para que se busca o merecimento? Qual a diferença da indiferença? A indiferença nos torna diferentes para nós mesmos, porque nos dessocializamos em atitude de autodefesa, portanto, a diferença, mesmo que negativa, é mas benfazeja que a indiferença. Merecer e ser merecido acaba sendo objetivo incessantemente buscado para fins de socialização; que é bem diferente e amplamente mais significativo do que ser aceito. O aceitar-se é primo próximo do tolerar-se, é um gesto de convívio que representa, claro, equilíbrio. Ser tolerado não é próprio mérito é contexto convencional. Há como viver não tolerando a si mesmo? É bem possível, mas, nesse caso, talvez estejamos falando meramente de sobreviver. Para darmos um passo a mais no merecimento, mister se faz praticarmos o exercício da tolerância como forma de reconhecimento de, ou do, outrem, ou seja, tolerar como forma de libertar-se e não libertar o que é objeto da tolerância. O tolerado não está liberto, está tenuemente aceito e fragilmente sujeito a intempéries. Para ir-se além é que entra o merecer-se como estágio de solidificação de plenitude. Trata-se de via direta de automerecimento reconhecer-se no tolerado. Ir além de sua tolerância para merecê-lo em sua essência. Eis o mistério do mérito de cada um que se transforma em ação meritória. Enfim, a cada um de nós é preciso reconhecer o direito de merecer e ser merecido, de protagonizar seu roteiro por menor que seja esse script, de ser oportunizado acima de tolerado. A tolerância hipócrita é a intolerância velada que dissimula a opressão. Faz mal para ambas as partes, é autofágica para quem a pratica e parasitária em quem a recebe. O que se espera é mostrar-se merecer estar adiante do que lhe conflita e o torna menor vivendo a intolerância inconfessa. Para merecer a si mesmo, me mereça, que eu o merecerei e, assim, agora, porque não o conheço, o mereço. 

(*) Engenheiro

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