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Ele não muda o placar

Há um bom tempo expressiva parcela de jogadores de futebol comemora o gol com gestos alusivos a Deus

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 08/10/2018 às 19:40Atualizado em 17/12/2022 às 14:17
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Há um bom tempo expressiva parcela de jogadores de futebol comemora o gol com gestos alusivos a Deus. Costumam apontar os dedos indicadores para o alto e mostrar uma segunda camisa com expressões destinadas ao Criador. A FIFA já repreendeu a CBF pela maneira com que os jogadores da seleção brasileira celebraram uma conquista. Ao final do jogo contra os EUA fizeram uma roda no centro do campo e rezaram. Este e outros acontecimentos preocupam na medida em que estimulam trazer a religião, crenças e credos para dentro dos gramados. Pode colaborar para o segregacionismo que deve ser combatido dentro e fora dos estádios. O esporte, principalmente o futebol, permite a agradável sensação de integração e comunhão entre povos, sejam ateus, muçulmanos, católicos, evangélicos, judeus, hindus. Quando se constata uma exagerada evocação divina para os feitos e efeitos que alguns maestros da bola atribuem a Deus fica a impressão de que a fé é patrimônio dos que “demonstram” sua devoção e as outras ovelhas não merecem a mesma sorte. Quem tem muita fé e a revela nas quatro linhas alcança a graça da vitória. E quando perdem ou empatam? É bem provável que ELE tenha prioridades mais relevantes do que interferir em um resultado de futebol. Hoje o futebol é altamente rentável. Os jogadores de grande talento tornam-se pop stars. Vestem a camisa que paga mais. Craques que integram grandes seleções, como a brasileira, juntos faturam cifras superiores a vinte milhões de dólares. Na Copa de 50 em valores atualizados para a moeda corrente foram gastos 400 milhões de reais, a copa de 2014 foi estimada em 27 bilhões (67 vezes mais. Assim como um profissional de futebol, hoje, em nível de seleção brasileira, espanhola, alemã, italiana, argentina, deve ganhar muito mais do que 67 vezes comparado a um jogador de 1950. O louvor a Deus de atletas adeptos a esse culto em campo deveria ser o de orar para que não haja confronto entre torcidas rivais, e que as crianças possam povoar os estádios pela beleza e magia do futebol. O esporte surpreende e ensina. Hitler viu sua pregação ariana ruir na primeira Olimpíada da Alemanha (1936) quando Jesse Owens, um afrodescendente, arrebatou quatro medalhas de ouro em Berlim. Neste caso, Deus tomou partido. 

(*) Engenheiro

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