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Obras-Primas do Cinema Europeu

No decorrer da década de 1920, quando o cinema tem pouco mais de vinte e cinco anos

Guido Bilharinho
Publicado em 30/08/2018 às 22:28Atualizado em 17/12/2022 às 13:01
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Os Nibelungos

Arquitetura de Imagens 

No decorrer da década de 1920, quando o cinema tem pouco mais de vinte e cinco anos de existência e produção, alguns cineastas, em poucos países, lançam-se a grandes realizações.

Enquanto nos Estados Unidos David W. Griffith já havia concluído Intolerância (Intolerance, 1916), na então União Soviética, Sergei Eisenstein dirige O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, 1925); na França, Abel Gance apresenta Napoleão (Napoléon, 1925-27); na Alemanha, outro cineasta, Fritz Lang, tão notável quanto os citados, realiza, em 1923-1924, Os Nibelungos – Parte I (Die Niebelungen – Siegfried) e Parte II (A Vingança de Kriemhild).

São filmes que se equivalem, pelo arrojo e monumentalidade, além de conquistas e inovações introduzidas, que marcam o cinema definitivamente.

Nesse mesmo período, os mencionados cineastas concluem outros filmes importantes, mas os acima citados, cada um num país diferente, são, além de tudo, verdadeiramente emblemáticos.

No caso de Fritz Lang, o só conhecimento de Metropolis (Idem, 1926), sua obra mais célebre e divulgada, não basta para aquilatar as dimensões de seu poder criador, mesmo sendo filme grandioso. Parece faltar algo, como certa comprovação dessa assertiva, que outros de seus filmes não chegam a atestar.

É que, por uma série de injunções, políticas na Alemanha (de onde tem de sair) e financeiras e mercadológicas nos Estados Unidos (para onde se dirige), suas reais possibilidades de ousadia e inventividade não têm condições de se manifestar para transformar cada filme em obra de arte.

Todavia, além de Metropolis, o filme Os Nibelungos não deixa dúvidas sobre sua capacidade cinematográfica.

Nele coexistem os atributos apontados, a ponto da maioria das cenas encerrar e traduzir concepção estética consciente e apurada.

O décor, além de impressionante por sua construção e visualização, comporta, a cada passo e em cada detalhe, conformação estética própria, onde os seres humanos compõem, com seus dramas, tragédias e atuação, elementos de conjunto plástico portentoso, em que se mesclam pintura, arquitetura, decoração, vestuário, postura humana, interpretação e movimentação das personagens, vigor direcional, ritmo e alta contextura imagética.

Isso, tanto na primeira quanto na segunda parte, a despeito de suas diferenças temáticas e de locação.

A sofisticação estética é tão acentuada, que, por exemplo, cada aparição ou focalização de Kriemhild perfaz criação plástico-imagética.

Poucos os filmes, entre eles alguns de Eisenstein ultimados nas décadas de 1930 e 1940, sob o influxo justamente de Os Nibelungos, apresentam tão relevantes imagens arquiteturais como esse. Não por sua monumentalidade, mas pela elaboração requintada e/ou arrojada. Sua influência distende-se para além dos limites cinematográficos, tendo-se observado, como lembra Georges Sadoul, que os grandes desfiles nazistas de Nuremberg pareciam-se com algumas imagens do filme.

Os Nibelungos refletem certo modo germânico de ser, de se apresentar e agir, não só pela desenvoltura, atitudes e postura das personagens, como pela sua composição.

Um filme, pois, que a par de sua qualidade estética, ou até por isso, emerge das profundidades de um estilo de vida, de uma visão do mundo e de uma maneira de existir. À semelhança, pois, de outras grandes obras artísticas da humanidade, a exemplo de Dom Quixote (1605/1615), de Cervantes. 

(*) Advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional

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