ARTICULISTAS

Obras-Primas do Cinema Europeu (Parte I)

Se o cinema nas duas primeiras décadas do século XX tateava à procura

Guido Bilharinho
Publicado em 22/08/2018 às 21:35Atualizado em 17/12/2022 às 12:45
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Berlim, Sinfonia da Metrópole

O Ritmo do Século 

Se o cinema nas duas primeiras décadas do século XX tateava à procura de uma linguagem própria com base na paulatina descoberta, utilização e domínio dos recursos da câmera, das possibilidades da imagem em movimento e dos primeiros (e fundamentais) passos para o conhecimento e conscientização dos efeitos da montagem, os anos 20 desse século assistem a eclosão de uns e outros.

Nessa década dão-se realizações artísticas experimentais e de vanguarda como nunca antes e nem depois o cinema teria iguais, em qualidade e intensidade, bastando lembrar, entre outras, as obras de Marcel L’Herbier, Fernand Léger, Walter Ruttmann, Marcel Duchamp, Germaine Dulac, René Clair, Man Ray, Dimitri Kursanoff, Alberto Cavalcanti, Buñuel, Viking Eggeling e Hans Richter.

Um desses filmes é Berlim, Sinfonia da Metrópole (Berlin, die Symphonie der Grosstadt, Alemanha, 1927), de Walter Ruttmann (1887-1941), que viera da realização da série abstrata Opus (1922/1925).

Antes, pois, do célebre filme Um Homem Com Uma Câmera (Cheloveks Kinoapparatom, U.R.S.S., 1929), de Dziga Vertov, mas já influenciado pelas ideias desse realizador soviético, Ruttmann dá à luz sua obra fundamental, que se torna também, automaticamente, um dos filmes capitais do cinema.

O que prenuncia o título materializa-se em imagem de grande esplendor, em construção de extrema perspicácia cerebral, alta acuidade visual e apropriada montagem de movimentos de tão vibrante constância e sucessividade que captam e fixam o ritmo do século, que só o cinema possibi­lita em toda sua concreticidade e grandeza.

O filme visualiza o pulsar da atividade humana na era 01 (zero um) da máquina, já que a era 0 (zero) deu-se no século XIX, numa demarragem que não tem nem terá fim, prefigurando ininterruptas continuidade, aperfeiçoamento e desenvolvimento, como o transicional século XX demonstrou.  Dificilmente será encontrável obra que traduza e transfigure em arte o cerne de seu tempo em sequência poética de figurações instantâneas do habitat construído até então pelo ser humano e de sua ativa inserção nesse contexto.

A velocidade dessa sucessão em cortes rápidos e montagem célere aliada à articulada visão do artista resultam em primorosa súmula desse universo humano numa das grandes metrópoles do planeta. (continua

(*) Advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional

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