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Nova equipe econômica promete um ano de ajustes para 2015

Jornalista Paulo Nogueira avalia atual cenário cenário econômico e promessas do Brasil de Mundo (Leia mais...)

Paulo Nogueira
Publicado em 30/12/2014 às 10:44Atualizado em 17/12/2022 às 02:02
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A nova equipe econômica do atual governo deixou clar 2015 será um ano de "ajustes". Os gastos públicos serão cortados para que se consiga economizar 1,2% do PIB e os juros devem se manter em um patamar elevado para ajudar a segurar a inflação. Também está sobre a mesa um aumento dos impostos. O curioso, porém, é que o Brasil parece abraçar a austeridade em um momento em que, fora do país, políticas dessa linha são colocadas em xeque.

De um lado os EUA, que adotaram uma estratégia focada nos estímulos à economia, conseguiram se recuperar e podem ter uma expansão de 3% em 2015. Já a zona do euro - que implementou uma política de cortes de gastos radicais e aumentos de impostos - ainda patina, com crescimento medíocre e desemprego na casa dos 11% (e instabilidade política em países como Grécia). Até o Banco Central Europeu parece ter admitido os limites dessa estratégia ao anunciar, recentemente, um pacote de compra de títulos para injetar recursos na economia e estimular os empréstimos e o consumo.

O essencial do que aconteceu no mundo nos últimos 15 anos é o deslocamento do eixo da acumulação global dos países avançados para os países emergentes. O núcleo da demanda global e também a mais alta taxa de crescimento, atual e potencial, residem agora no mundo emergente, o que atrai em grande escala o investimento transnacional, além dos níveis do mundo avançado, berço e origem da acumulação capitalista. Esta é a globalização como fenômeno central da época, desde que se estendeu aos países emergentes a partir do colapso da União Soviética e da unificação do sistema (1991). No capitalismo há um processo de sinal inverso, de maior importância histórica ainda que a globalização. É a convergência (incremento da produtividade mais alta da receita per capita) dos países emergentes em direção aos avançados, cuja cabeça são os EUA (país-fronteira do sistema), que abriga o núcleo da inovação tecnológica e constantemente redefine o marco do possível.

A primeira coisa que se adverte nessa segunda tendência é que dois dos três principais países emergentes (Brasil e Índia) estão fora do círculo de convergência e que este é liderado pelo terceiro país (China), cujos níveis de alta da produtividade e auge de receita per capita (9 % e 8% ao ano, respectivamente) são mais elevados que os dos EUA.

A taxa de crescimento média do Brasil nos últimos 5 anos é de 2% anual (1,6% em 2014), coincidente com um nível de expansão potencial de 2 por cento ao ano, ou menos, virtual estagnação. A produtividade também parou de crescer, sobretudo na indústria manufatureira (mais 1% por ano a partir de 2007), o que se transformou na causa fundamental de sua aguda desindustrialização.

Algo semelhante acontece na Índia. A taxa de crescimento caiu para a metade nos últimos 10 anos (5,5 por cento vs. 10% anual) e a expansão potencial diminuiu de maneira equivalente. O resultado é uma taxa de inflação de 8,5% anual, arrastada por uma alta dos alimentos de 14%/16% e uma virtual incapacidade para criar suficientes vagas de trabalho que permitam ocupar o milhão de jovens que se incorporam todos os meses ao mercado.

Por isso o gigantesco crescimento da estrutura de subsídios (alimentos, combustíveis, transportes), que provocam um déficit fiscal de 4,5%/5% do PIB. O problema do Brasil (ou da Índia) não é a estagnação, mas a exclusão do círculo de convergência com a fronteira tecnológica da época. Isso acontece no contexto de uma nova revolução industrial nos EUA, que torna qualitativo o abismo de competitividade com a manufatura brasileira.

 

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