Desconfie da capacidade de qualquer gestor público, que, alegando necessidade de redução de despesas, promova cortes de gastos lineares, sem se importar com as peculiaridades de setores, as demandas reais e os méritos particulares. A tesoura passa sem análise profunda da situação, gerando injustiças e erros insanáveis. Foi assim que, para cumprir uma promessa de campanha do candidato que se elegeu presidente da República, o ministro da Economia fez publicar o Decreto 9.725, de 2019, extinguindo 21 mil cargos comissionados no governo federal. O corte atingiu servidores concursados e, em sua maioria, essenciais à manutenção da qualidade do serviço público brasileiro. Foi extinta, por exemplo, a Delegacia da Receita Federal de Uberaba, transformando-a em posto de serviço subordinado à Delegacia Regional de Uberlândia, sem qualquer critério técnico aceitável. Não foram levados em consideração fatores como a movimentação de cargas no Porto Seco de Uberaba, cujo montante supera em muito ao da cidade vizinha, nem tampouco o prédio que abrigava a extinta Delegacia, superior em estrutura ao de lá. O INSS também foi sucateado em todo o país, deixando para os beneficiários que dependiam de auxílios concedidos por ele uma fila imensa e lenta, e muito improviso.
Por outro lado, cresceram os gastos públicos de interesse do governo, como cartões corporativos, propaganda e marketing, aumento do número de ministérios para contemplar novos aliados, e até um gabinete do ódio custeado com dinheiro público. O Ministério da Defesa teve um incremento de gastos no atual governo superior à evolução das despesas das pastas da Educação, Saúde, Agricultura e Relações Exteriores. A meta era privatizar e reduzir o tamanho do Estado, não sua eficiência no atendimento ao contribuinte brasileiro. O que foi privatizado até hoje?
A expressão “pra inglês ver”, indicativa de que a norma não é pra valer, tem como origem, segundo historiadores, lei editada em 1831 contra tráfico negreiro. Pressionado pelos ingleses, o Brasil declarava livres os escravos ilegalmente importados, mas autoridades locais encontravam meios de preservar o cativeiro.
O tempo passou e no Brasil nada mudou. Continuam governando pra inglês ver, com promessas não cumpridas, arranjos políticos inconfessáveis, gestão rasa e risível, e muita propaganda e fake news. Afinal, desde que pisam no Poder a única coisa que interessa é a reeleição.