O ato de fazer pão, atividade bem antiga, exige poucos ingredientes. Farinha de algum cereal, fermento, água e sal (ou açúcar) são suficientes para se preparar um bom pão, de cheiro e sabor irresistíveis. E o Dia do Panificador ou Dia do Padeiro (8 de julho), criado em homenagem à Santa Isabel de Portugal, faz-nos recordar que o pão é um dos alimentos básicos do corpo e da alma.
Em cada lar, alguém tem a tarefa de buscar “o pão de cada dia” na padaria – prática que, com a pandemia, foi revista. É aí que entra o neologismo “pãodemia” – a febre do momento. Trata-se da (nova) mania de fazer pão, bastante disseminada durante a pandemia: fazem-se pães salgados ou doces; de textura, cor, formato e tamanho variados; com farinhas diversas; recheados ou não; com ou sem fermento, especiarias e outros ingredientes (como grãos, frutas cristalizadas e frutas secas).
Em certas instituições religiosas, os fiéis, após as missas, em que se nutrem do “pão da alma” (a hóstia consagrada), vão à padaria da instituição em busca de pães feitos pelos religiosos. Isto mesm há tempos, a venda de pães de fabricação própria tem sido o “ganha-pão” de muitos religiosos – como as monjas beneditinas do Mosteiro Nossa Senhora da Glória e a Comunidade Católica Discípulos da Cruz (em Uberaba); os monges trapistas e os do Mosteiro de São Bento, dentre outros.
Porém, de repente, fabricar pães artesanais deixou de ser exclusividade dos religiosos. É que, em obediência ao “fique em casa”, por causa do novo coronavírus, as pessoas, que às vezes até passam dia e noite de pijama, não saem de casa nem para comprar pão. E como trocaram o pão da padaria pelo caseiro, as “fábricas de pães caseiros” têm operado a todo vapor, em concorrência com as panificadoras. A internet deu sua mãozinha, com cada foto, vídeo, revelação de segredos e macetes de receitas de pão de todo tipo – doce e salgado, recheado ou não. Hum... que delícia!
A venda de pães nas padarias próximas à minha casa não caiu, conforme verifiquei, mas o fato constitui exceção à regra. E, além dos pães, os fregueses levam outras iguarias, como bolacha, rosca, biscoito, bolo e... Jornal da Manhã, que combina sempre com um bom cafezinho e é uma boa companhia, principalmente na quarentena.
O ruim da pandemia em relação ao assunto é que sentimos falta de, como antes, tomar café nas ótimas padarias de nossa cidade. Mas o lado bom foi a revelação de tantos novos talentos na arte de fazer pão, o que garantiu à língua portuguesa o neologismo pãodemia. Quanto ao futuro desse neologismo, só o tempo dirá se pãodemia veio para ficar, ou se terá sido só mais uma... febre dessa pandemia.
Mário Salvador