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Antidepressivos viciam?

Fernando Vieira Filho
Publicado em 10/06/2020 às 21:16Atualizado em 18/12/2022 às 06:58
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Sempre me perguntam se os medicamentos antidepressivos levam à dependência física ou viciam. O que ocorre com o antidepressivo é a tolerância orgânica, que o leigo sempre confunde com "dependência".

Com os antidepressivos, por serem medicamentos de uso relativamente longo, costuma ocorrer, com o passar do tempo, uma tolerância fisiológica ao composto químico, que consiste na necessidade de uma maior dose para se obter o mesmo efeito. Por isso, o médico, sempre ao concluir o tratamento da depressão, solicita ao paciente um longo processo de desmame ou dessensibilização química.

Infelizmente, a grande maioria dos pacientes não respeita esta recomendação médica – interrompem a medicação de uma só vez (de repente ou de supetão) – e, após um curto ou médio espaço de tempo, os sintomas da depressão retornam como um verdadeiro "tsunami". Este é o chamado efeito rebote ou depressão de rebote, que é um quadro depressivo ainda mais grave que aquele que havia antes do tratamento.

E aí, novamente, o tratamento é iniciado com mais rigor na medicação, quando o paciente, muitas vezes, julga erroneamente que ficou dependente do antidepressivo. Porém, ele se esquece que foi impaciente e teimoso – arrogante mesmo – em querer "fazer as coisas a seu modo”, passando por cima da recomendação médica.

Os antidepressivos atuais são medicamentos extremamente úteis e seguros na terapêutica da depressão e outros transtornos mentais com Transtorno Afetivo Bipolar, Ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno de Pânico, Anorexia, Bulimia, etc.

O que causa dependência química, na verdade, são as anfetaminas (estimulantes), os sedativos, os hipnóticos ou ansiolíticos da “família” dos benzodiazepínicos como o Clonazepam (Rivotril), Diazepam, Alprazolam, etc. Diferentemente dos antidepressivos (que são tarja vermelha), todos estes medicamentos citados acima possuem tarja preta em suas embalagens.

O importante é que a indicação de uso do antidepressivo tenha vindo de um médico, preferencialmente um psiquiatra. Como dizia o professor e psiquiatra dr. Elias Barbosa (1934-2011), o antidepressivo é uma “bengala abençoada” que coloca nossa casa interna em ordem, amenizando os sintomas para que o paciente busque uma psicoterapia que investigue as "causas" emocionais que levaram a pessoa a "fazer" a depressão.

Fernando Vieira Filho

Psicoterapeuta clínico, palestrante e escritor

 

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