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O sonho de Zezinho

João Eurípedes Sabino
Publicado em 17/07/2020 às 06:55Atualizado em 18/12/2022 às 07:53
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Em meio a um clima de família nada pacífico, onde ninguém se entendia, o menino de nome José, o Zezinho, nascido entre vários irmãos, teve um sonho do qual não fez segredo assim que acordou. O pai, a mãe e os irmãos lhe fizeram pouco, mas, mesmo desapontado, Zezinho relatou seu sonho. E quem é o tal Zezinho?

Apesar de viver em um lar confuso, o menino nutria a vontade de ver sua família convivendo em paz. Na pré-adolescência, ele sentia ansiedade quando todos em casa falavam ao mesmo tempo e, na maioria das vezes, aos brados.

Zezinho sentou-se à mesa e convidou seus pais. Mesmo com a demora para ser atendido pelo pai (a mãe veio logo), o menino Zé fez aos dois uma explanaçã “Mãe e Pai, até parece que eu nasci em casa errada. Não consigo entender por que tanta discussão aqui entre nós. Qualquer assunto vira logo um bate-boca. Cada um quer ter razão e puxa tudo pro seu lado como se fosse o dono da verdade. No fim, essa verdade não fica com nem um. Eu vejo noutras casas onde não tem tanta muvuca e rusgas, parece que as coisas lá dão certo. Não sei se estou totalmente certo, mas vejo que lá cada um puxa ao máximo para dentro de casa, com um querendo ver o bem do outro. Um estando feliz, todos ficam felizes”.

Eu tive um sonho, disse Zezinho. Quero contá-lo a vocês e peço que me escutem: sonhei que o senhor (dirigindo ao pai) com minha mãe todos os dias chamavam meus irmãos e eu para conversarmos e tudo que passava aqui em casa era resolvido entre nós. Quando um via que o outro estava nervoso, procurava acalmá-lo e não provocá-lo. O nervoso tinha a humildade para se calar e, passado o momento, voltava à conversa com calma, sem esbravejar. E todos da nossa casa entendiam. Combinamos que se o confronto não resolver, então procuremos o caminho da paz. Para isso foi necessário que nem um de nós sentisse ter mais ou então menos razão debaixo do nosso teto.

Os pais de Zezinho ouviram essas e outras coisas que pareciam não vir de um menino e a ele fizeram as seguintes ponderações: - Zezinho, onde foi que você aprendeu essas coisas? Acho que você está tendo visões e vendo coisas além da sua idade. Por que você está assim tão preocupado com isso?

Zezinho, com o dom o que Deus lhe deu, assim responde: - Pai e mãe, aprendi essas coisas observando outras famílias. Não estou tendo visões e sim enxergando uma realidade que, sem ela, não iremos a lugar nenhum. Parece que ficamos patinando enquanto pessoas de outras casas deslancham. Agora mesmo nossa família pode desmoronar e para onde iremos todos nós? Zezinho fez calar seus pais e encerrou ali a narrativa do seu sonho.

É de se perguntar: há alguma semelhança entre Zezinho e o povo brasileiro? O puxa e rasga entre os três poderes da República brasileira não é o retrato da família de Zezinho? Enquanto um fala, o outro não murcha as orelhas e com isso o resultado é desastroso para cada brasileiro. A casa dos outros, dita por Zezinho, pode ser os países evoluídos?

O pior é saber que o estrago causado pelos desentendimentos oficiais demandará gerações para ser reparado.

 

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