POLÍCIA

Irmãos de 13 e 11 anos relatam maus-tratos ocorridos em casa

Menino disse que chegou a ficar acorrentado por três dias, fato confirmado pela mãe da criança, que alegou proteção

Tulio Micheli
Publicado em 27/02/2019 às 21:30Atualizado em 17/12/2022 às 18:36
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Ilustrativa/reprodução

Irmãos disseram à polícia que são obrigados a trabalhar na colagem de sacolas e às vezes passam madrugadas no serviço

Ocorrência de maus-tratos contra crianças foi registrada ontem, em Uberaba, e o caso gerou revolta naqueles que participaram da apuração e registro da ocorrência.

Segundo apurou a reportagem, o caso aconteceu no bairro Jardim América, onde a Polícia Militar foi acionada a comparecer a determinada escola da cidade (o nome é preservado para evitar qualquer tipo de identificação das vítimas) para registrar boletim de ocorrência de maus-tratos contra dois menores, irmãos, sendo o menino de 13 anos e a menina de 11.

Funcionárias da escola perceberam que o menino chegou para os estudos com um grande hematoma no braço. Após a desconfiança e constatação, os militares conversaram com o garoto, que pediu que chamassem sua irmã, que também estuda no mesmo local, para participar da conversa. Os dois mostravam intenso nervosismo e emoção ao contar o que passavam em casa.

Segundo as crianças, elas moram com a mãe, de 30 anos, e o padrasto, de 33. Eles ainda contaram que também mora no local outro irmão, de apenas três anos de idade. Durante os relatos, as crianças disseram, que a partir do momento que chegam da escola, até a noite, são obrigadas a trabalhar com os pais com colagem de sacolas plásticas, que é a renda da família. Além disso, que muitas vezes são obrigadas a varar a noite realizando o trabalho.

A parte mais grave da ocorrência foi quando os menores relataram que sofrem agressões quase que diariamente, principalmente quando se negam a trabalhar. O menino ainda contou que não almoçam em casa, uma vez que a mãe justifica que os mesmos já comem na escola, mas que quando chegam dos estudos, seus pais ficam comendo “coisas gostosas” na frente dele e dos irmãos. Revoltando ainda mais os presentes, o garoto ainda contou que, certa vez, teve que se alimentar com comida azeda. Ele ainda emocionou a todos quando afirmou que tentou fugir de casa, mas acabou sendo acorrentado pelo pescoço, ficando preso por alguns dias. Sobre as marcas no braço, o menino contou que o padrasto teria batido nele no dia anterior com uma mangueira.

Após os relatos e depoimentos das crianças, os militares se deslocaram até a residência da família. Eles foram recebidos pelo casal, que desmentiu a fala das crianças, afirmando, inclusive, que os mesmos não são obrigados a trabalhar, mas que apenas ajudam no tempo que podem. A mãe disse que os relatos das agressões, em partes, são verdadeiros, uma vez que o filho é muito “teimoso”, mas que não é na intensidade revelada pelo menino. A mulher ainda disse que o filho foge, anda com companhias suspeitas e que já teria até cometido furtos.

Quanto à alimentação dos filhos, a mulher disse que é apenas regrada. A geladeira da família fica no quarto do casal e, segundo eles, é para que os filhos não comam toda a comida da casa. Sobre o almoço, a mulher confessou que realmente não é servido, uma vez que os filhos já se alimentam na escola. A mulher também confirmou que acorrentou o próprio filho por três dias, quando o mesmo tentou fugir de casa, mas relata que agiu dessa maneira apenas com a intenção de proteger o menino.

Após a apresentação das versões, todos os envolvidos foram encaminhados para atendimento médico. O Conselho Tutelar acompanhou os desdobramentos da ocorrência e tomou as providências cabíveis, como, por exemplo, o encaminhamento das crianças a um abrigo. Os pais foram apresentados à autoridade policial na Delegacia de Plantão.

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