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Saturnino de Brito e a água em Uberaba

Os graves problemas ambientais relacionados ao saneamento básico e à distribuição de água...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 19/11/2017 às 16:44Atualizado em 16/12/2022 às 08:57
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Os graves problemas ambientais relacionados ao saneamento básico e à distribuição de água tratada para a população brasileira não começaram no final do século XX. Nas primeiras cidades coloniais esta já era uma preocupação e as respostas surgiram à medida que novas necessidades impunham-se. O crescimento populacional não foi o fator determinante, apenas uma das variáveis envolvidas. O modelo excludente de crescimento econômico que vingou no Brasil e as relações políticas, econômicas e sociais advindas desse modelo é que nortearam as decisões sobre as soluções adotadas.

No começo do século XX, destacou-se, no Brasil, a figura de um engenheiro sanitarista cuja vida e obra ainda carecem de estudos. Trata-se de Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, ou Saturnino de Brito (1864-1929). Ele trabalhou em todo o Brasil, projetou obras de saneamento, redes de água e esgotos em inúmeras cidades, com destaque para o saneamento de Santos, de Recife, da lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e o projeto de retificação do rio Tietê. Publicou várias obras.

Saturnino de Brito esteve em Uberaba em 1922 e escreveu o relatório intitulado “Saneamento de Uberaba”, que se encontra no volume 14 de suas Obras Completas, publicadas em 1943/44. Esse relatório foi apresentado ao Dr. João Henrique, Agente Executivo Municipal, correspondente a prefeito nos dias atuais. Nesse relatório estão dois estudos: o primeiro sobre o abastecimento de água para a cidade e o segundo sobre os esgotos. Claro que são outros tempos e muitas das ideias daquela época já não se aplicam às atuais demandas. Hoje, por exemplo, já não são recomendados os canais fechados, o chamado aprisionamento de córregos, comuns no século XX.

O Relatório apresentou uma excelente caracterização da cidade, tratou da expansão urbana, do clima, das edificações e das vias públicas. A cidade contava com cerca de 20 mil habitantes. Segundo ele, o abastecimento de água era feito através de nascentes, e existiam proprietários de terrenos, onde se localizavam minas d’água, que canalizaram a água para vender a quem pudesse pagar. Tudo muito precário, atendendo a cerca de 500 casas. Alertou para o fato de que quase todas as minas já estavam, ou iriam ficar, contaminadas. Condenou, em especial, poços ou cisternas: “sujeitas a perigosíssimas poluições”, de que se serviam algumas casas.

Ele estudou quatro projetos para a captação de águas: na bacia do córrego das Lages, no rio Uberaba, nos córregos do Lanhoso e outros, e em “águas altas” na bacia do rio Claro. Afirmando que as demais soluções não deviam ser desprezadas, acreditava que a melhor era a que prevalece até hoje, a do rio Uberaba. Preocupou-se com custos e fez uma recomendação que, infelizmente, não foi seguida: a preservação da área da nascente. A cidade teria reservada uma área verde essencial e garantido uma vazão de qualidade e suficiente por muitos anos. Pois é!

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