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Revoada

Pardais, andorinhas e sabiás. Essas aves, dentre outras tantas

Mário Salvador
Publicado em 06/05/2014 às 19:46Atualizado em 19/12/2022 às 07:54
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Pardais, andorinhas e sabiás. Essas aves, dentre outras tantas, foram consagradas em músicas brasileiras cujo vigor superou o das decantadas aves.

Na Ave Maria no Morro, de Herivelto Martins, sucesso especialmente nas vozes de Dalva de Oliveira e Francisco Alves, surgem os pardais: “...Tem alvorada, tem passarada, ao alvorecer,/ sinfonia de pardais, anunciando o anoitecer”. Na música de Alcino Alves, sucesso gravado por tantos cantores, como Trio Parada Dura, Tonico e Tinoco, Edson e Hudson, César Menotti e Fabiano, a andorinha foi imortalizada: “... Igual à andorinha,/ eu parti sonhando,/ mas foi tudo em vão./ Voltei sem felicidade,/ porque, na verdade,/ uma andorinha voando sozinha/ não faz verão”. E em “A Majestade, o Sabiá”, sucesso de Jair Rodrigues, gravado por tantos cantores, como Roberta Miranda e Chitãozinho e Xororó, o sabiá foi consagrad “... Tô indo agora pra um lugar todinho meu./ Quero uma rede preguiçosa pra deitar./ Em minha volta sinfonia de pardais/ cantando para a majestade, o sabiá.” Pardais cantam em sinfonia, como súditos do sabiá.

São canções plenas em sentimento e ternura, sucessos que gostamos de ouvir. Pois é! As músicas continuam vivas. E os pardais, sabiás e andorinhas? Lembro-me de bandos de incontáveis andorinhas cortando os céus em revoada, dando voltas e mais voltas e pousando nos fios que, esticados nos postes, formavam pautas de partituras em que as andorinhas eram as notas musicais. Lindo espetáculo! Campinas, em São Paulo, ficou conhecida como Cidade das Andorinhas. Mas onde foram parar as andorinhas?

Também vi sabiás pousarem em árvores, exibindo sua plumagem, e os ouvi cantar – um canto raramente ouvido hoje, a não ser às sete horas, quando o sabiá-laranjeira canta, aprisionado no meu relógio de parede. E para onde foram os sabiás? Os pardais ficaram com a fama de destruírem lavouras e não mais são vistos em bandos pela cidade. Ainda bem que os compositores imortalizaram as sinfonias dos pardais em músicas. E para onde foram os pardais? Essas aves foram desaparecendo dos campos e também das cidades, que vão ficando sem árvore. Já que pagamos o preço do progresso, é fácil entender Chico Buarque e Francis Hime alertando as aves: “Bico calado,/ toma cuidado,/ o homem vem aí!”, na música Passaredo.

Enquanto alguns moradores da cidade de São Paulo se queixam do barulhão das aves nas proximidades do Parque Ibirapuera (As madrugadas por lá são barulhentas por causa das serenatas), outros moradores se dizem alegres por poderem ouvir, numa cidade barulhenta, pássaros cantando. Talvez por lá estejam os sabiás, andorinhas e pardais que desapareceram do nosso meio. Ainda é tempo. As aves não estão extintas. Cultivar árvores pode ser o caminho para resgatar toda a energia e beleza de cantorias e revoadas...

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