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A importância da tecla “delete”

Padre Prata
Publicado em 06/04/2014 às 14:54Atualizado em 19/12/2022 às 08:14
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Dois séculos antes da era cristã, um cônsul romano gritava no Senad “Delenda est Carthago” (Cartago deve ser destruída). Os cartagineses ameaçavam a Pax Romana, a sólida estrutura do Império Romano. Daí as iras de Catão.

Foi dele que me lembrei diante do computador ou, mais precisamente, ao acionar a tecla “delete”. O étimo é o mesmo. Sempre no sentido de destruir, de limpar, de apagar. Já aportuguesaram o termo. O Houassis já traz o verbo deletar.

Com apenas um clique, podemos apagar letras, palavras, textos inteiros, arquivos, pastas, o que quisermos. Num átimo livramo-nos do lixo eletrônico que se vai acumulando dia após dia, inexoravelmente.

O que nos enviam pelo correio eletrônico, sem nos pedir licença, é de assustar. Perdemos um tempo precioso para “higienizar” nosso computador. Vem de tud esquemas para aumentar nossos rendimentos, como ganhar dinheiro fácil, compra de carros, de apartamentos, de CDs, de livros, piadas, frases de pessoas célebres, de mensagens piegas, propaganda religiosa, receitas e pornografia. Um mundo de coisas inúteis e de tempo gasto para deletar tudo aquilo, de mandar tudo para o nada. E, como escreveu o Mário Salvador, “nada é nada”. Fim.

Dizem os “experts” no assunto, os entendidos, que o cérebro humano é bilhões de vezes superior ao mais avançado computador. Só nos falta a tecla “delete” para enviar à lixeira as coisas inúteis ou ruins armazenadas em nossa memória, em nossos conjuntos neurais, sinapses e tudo o mais. Coisas que estão guardadas em nosso eu profundo, nas dobras de nosso inconsciente, que só vêm à tona nos sonhos e nos processos de regressão.

Seria bom se pudéssemos jogar no lixo os acontecimentos desagradáveis de nossa vida, coisas cujas lembranças nos fazem sofrer ou nos perturbam. Mas, infelizmente (ou felizmente?) esse dom nos foi negado, não nos deram essa teclazinha tão importante.

Outra coisa me vem à memória, obrigando-me a uma digressão. No Ginásio Diocesano onde estudei, em todas as salas de aula, bem acima do estrado do professor, fixada na parede, uma tabuleta retangular onde se lia: “Deus me vê”. Era um aviso, naquele tempo, para que eu me comportasse bem porque Deus estava me vendo, me vigiando, tomando nota de minhas faltas. Para que? Para me castigar. Naquele tempo era assim. Com os anos e melhor teologia, fui aprendendo que Ele nos vê, não como réprobos, pecadores contumazes em potência. Aquele aviso era verdade, Deus realmente nos vê, não com os nossos olhos, mas com os olhos dEle. Eu não sei “como Deus é”, mas sei “o que Ele faz”. Ele faz o papel de “delete”. Ele nos limpa, nos perdoa, manda para o lixo o mal que está dentro de nós. Realmente apaga. Foi dEle que me lembrei diante dessa teclazinha aparentemente sem importância.

O “delete” de nossa vida é Ele, o Pai. Mas, olhe lá!, é preciso saber “acessar”, é preciso saber “formatar” nossa vida. O trabalho de limpeza interior é feito a dois.

 

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