ARTICULISTAS

Só sei que não sei nada

Quando eu ainda criança, quase todas as manhãs

Manoel Therezo
Publicado em 09/11/2013 às 17:38Atualizado em 19/12/2022 às 10:18
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Quando eu ainda criança, quase todas as manhãs gostava de estar em uma pequena fabrica de coisas de barro que um senhor conhecido por “Borrachinha”, com suas mãos habilidosas moldando aquele material às fazia. Era ele de estatura muito baixa me parecendo um anão, mas nunca tive coragem de lhe perguntar por que era tão baixinho? Não sei se gostava de conversar comigo porque naquela idade eu também tinha o seu tamanho. Ele sentado ao lado de uma roda de madeira, com o pé direito girava-a com certo vagar. Outra em cima, também de madeira, por estar ligada a de baixo por um eixo, simultaneamente se movimentavam. Na roda de cima, punha uma pelota de barro para se transformar noutra beleza. Eu ficava observando suas mãos ora apertando, ora forçando para um lado, ora para outro, assim ia fazendo até que a pelota de barro se transformasse no que estava almejando fazer. Enquanto isso conversava comigo como se eu fosse gente grande. Embora o nosso convívio fosse diário, certa manhã me perguntou como eu me chamava e de quem eu era filho? Dei-lhe as explicações de criança. Depois daquela indagação que me estranhou porque esperava não lhe ser tão desconhecido, sem graça, não mais tive a mesma vontade de antes de conversar com ele. Vez ou outra, dele ainda me lembro quando me olhando no espelho, a mim mesmo me pergunt “Quem é você?”. Espelho algum conhece alguém—mas, tenho que se ficasse lhe perguntando “Quem é você?”, acabaria por me dizer: — Ora, o que é isso, rapaz!... Não é possível você não saber... “Eu sou você”—um corpo com uma alma dentro, que de tempo em tempo deixará de estar por aqui para de novo voltar a existir o quanto lhe fizer preciso—ou você pensa que o existir somente existe para que aprendamos a nos conviver com a Atração da Gravidade que nos retém sobre a terra? Se o existir não existisse para os seres humanos, todos seriam como são as moedas, valendo sempre o mesmo valor sem crescer coisa alguma. Permanecer sem evolução, sem crescer coisa alguma, não é a razão do existir para o homem. Tem ele por dever, buscar as riquezas da evolução. Esse evoluir faz com que ele melhor diga o que foi ontem, do que hoje ele possa ser. Eu por exemplo, hoje, melhor sei dizer o que fui ontem. Vergonhosa e inesquecível criatura xucra. Devo essa consciência ao fato do existir. Quantos outros somente ao agonizarem sobre o leito, tardiamente chegam a concluir o quanto o existir é importante. O triste de tudo isto, é que se vai acostumando não apenas com a Atração da Gravidade, mas se acostumando também a não mais perguntar ao espelho; “Quem sou?”—como se tudo o que era preciso fazer para crescer foi feito, nada mais havendo o que aprender. Ah!... Quanto engano. “Aquele que tem consciência que não sabe de nada que existe entre o céu e a terra, é bem mais inteligente do que aquele que não sabendo nada, acha que sabe tudo”. Sempre o “Quem sou?” cresce, quando se trabalha para que o conhecimento que ainda está lá fora, passe para dentro de sua cabeça e, se tenha no igual do grande Sócrates que, embora sabendo muito, sempre dizia: “Só sei que não sei nada”.

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