Bem que ele avisou!

Contamos. E a história se repetiu: Uma vez criado o mundo, um anjo indignou-se: “Bom Deus, aleatoriamente o Senhor distribuiu, pela Terra, vulcões ativos, terremotos, tornados, gelo... menos no Brasil!” E Deus, de infinita sabedoria, objetou: “Mas você vai ver o povinho que vou colocar lá!”

Pois é! O povinho tem aprontado. E a mídia, que, se censurada, não espalharia certas notícias, informou que o SUS (Sistema Único de Saúde), nos últimos cinco anos, foi lesado em 502 milhões de reais, devido a recursos aplicados irregularmente por prefeituras, governos e instituições públicas. Das 1.339 auditorias feitas no período, 113 têm ressarcimento calculado em mais de um milhão de reais, cada. (Povinho complicado! Bem que Deus avisou, mas não precisava caprichar tanto!) Cabe ao Ministério da Saúde conseguir de volta o que foi pelo ralo da corrupção. Talvez netos de nossos netos recebam notícia de alguns centavos recuperados, já que o caminho legal é longo.

Embora o povo nem sempre consiga consultas pelo SUS, no bolo dos milhões de reais desaparecidos há um caso, no mínimo, inverossímil: em um único dia, um paciente foi atendido 201 vezes em uma clínica de Água Branca, Piauí. O mais surpreendente: a clínica teve coragem de mandar a fatura (como manda a lei) das 201 consultas para o SUS! Ou o SUS foi extremamente eficiente no atendimento a esse cidadão, que devia estar bem doente, ou nem com muita fé acreditaremos nesse número de consultas.

Na publicidade, Brasil é o país das maravilhas; aqui tudo é lindo; o povo é atendido em suas necessidades. Na realidade, não é bem assim. Há falhas contundentes no setor da saúde. Criminalidade é prato cheio do noticiário. Há bandidos infiltrados em forças policiais: o dinheiro é corruptor valoroso. Nossas estradas não são as mais desejadas. Setores importantes como educação e policiamento recebem baixa remuneração. Se bem remunerados, policial não se bandearia para o crime e professor não faria greve. E a lei (Ora a lei!), na prática parece favorecer criminosos e ignorar o cidadão honesto.

Para esse cidadão honesto, carro, só se for blindado. Caminhada, só na esteira. Almoçar fora, só no quintal de casa. Viajar, só na leitura de livros. Deus cumpriu a promessa. Metade do povo é cruel. A outra metade, neurótica, trancou-se em casas cheias de grades. Ou em apartamentos em condomínio fechado, aparentemente mais seguro.